Lembras-te da história que escrevi antes? Era a de uma mulher e de um homem com muitas coisas para contar. Viviam os dias cruzados por gestos e viajavam para sul quando o sol lhes indicava o caminho. Fechavam-se dentro de uma casa com paredes grossas e faziam a cama com lençóis de linho antigo. Abriam a janela para o canto dos pássaros poder entrar e colocavam na mesa margaridas brancas que retiravam do jardim.
31.10.10
30.10.10
OUTRA HISTÓRIA
Prefiro outra história. A história de quem oferece rosas brancas compradas na florista da Avenida de Roma e corre até ao Chiado para se sentar à mesa de um restaurante que existe desde os anos oitenta e continua lindo. A história de alguém que veste um blusão azul-escuro com pêlo por dentro e o despe para o pendurar na cadeira, antes de se sentar com o corpo e as flores no mesmo gesto.
29.10.10
28.10.10
27.10.10
PEQUENA MORTE
Os franceses chamam ao orgasmo la petite mort, já pensaste nisso? O momento de uma pequena morte é o momento do prazer superior. O instante absoluto da passagem é, com certeza, a libertação, o alívio, o caminho, a elevação, o prazer de outra forma, muito mais intensa, por certo. Morrer é um momento bonito. O sofrimento da partida confunde-se com o sentimento da elevação. O corpo desprende-se e a sensação deve assemelhar-se ao prazer sexual. É difícil definir a morte e o prazer. Já tiveste que explicar a uma criança todas estas coisas? Experimenta. Vais sentir a mesma dificuldade que eu. A analogia é o recurso, a metáfora é a ferramenta e, tudo o que usares para clarificar o conceito ou a sensação te parecerá limitado.
26.10.10
COM A MORTE DENTRO
Sabes o que penso? A vida tem a morte dentro dela. Todos os dias os nossos pés vão em direcção a um fim. Continuamos a percorrer a estrada, convencidos de que não vai acabar. É preciso que nos deitemos numa maca dura e fria a caminho do hospital para percebermos a impermanência e a finitude. É preciso que o peito expluda de dor para que nos lembremos de que vamos morrer. É preciso que o amor esbarre no abismo para percebermos que ele nunca existiu ou que subsistirá.
25.10.10
LONGE DAS GAIVOTAS
Desculpa. O mar continua azul demais e eu continuo sentada. Entre as palavras que lês tomei um duche, esfreguei o cabelo com força, pus creme gordo nas pernas e viajei. Sem maresia, o meu nariz mantém um aspecto mais saudável. Desculpa. Estava chuva demais para poder continuar a história que comecei perto das gaivotas. Voltei a casa porque não aguentei o voar delas. Apercebi-me que não tinha asas e acelerei em cima do alcatrão molhado até ao sítio dos humanos de pés no chão e olhar num horizonte que não conseguem perceber.
23.10.10
COISAS QUE ME INQUIETAM (28)
Levantar cedo ao sábado e ter de olhar para a auto-estrada até ao final de uma linha previamente traçada.
22.10.10
ESTOU CÁ
21.10.10
DIA SEGUINTE
Não podia sair. Não encontrava comida no frigorífico nem roupa em cima da cama. Depois de se sentar no sofá sem almofadas, pensou que talvez fosse melhor encontrar o telemóvel para ligar a alguém. Sem bateria. Falta de luz. Tudo desligado. Até a memória dos dias melhores se desligou do presente. Encostou-se à ombreira da porta e adormeceu com a convicção de que o dia seguinte lhe devolveria algum ânimo
20.10.10
19.10.10
O DIA DO SILÊNCIO
Terias, hoje, o telemóvel desligado. Farias do dia um momento de clausura.
Porque ainda me lembro de todas as coisas que me ensinaste, porque ainda sinto o sorriso atrás da porta, porque estás presente em cada gargalhada ou prato de sardinhas assadas em esplanada quente.
Resta a saudade, o desejo despido e a esperança de te encontrar um dia. Com toda a certeza.
18.10.10
17.10.10
PÓ DE ARROZ
Ela tinha tantas dores nas pernas que, todos os dias se sentava ao espelho. O pó de arroz servia para se distrair do que não podia evitar.
16.10.10
SE EU FOSSE RAINHA
Se eu fosse rainha, viajava de jeans e ténis de marca; fugia dos paparazzi para dar um mergulho em praia deserta. Se eu fosse rainha, escolhia os meus empregados pela inteligência e os meus seguranças pelo aspecto.
15.10.10
SE EU FOSSE MINISTRA
Se eu fosse Ministra da Educação, avaliava a pontualidade e o cumprimento de prazos.
Se eu fosse Ministra, contratava supervisores estranhos à escola e punha-os a bater à porta das salas de aula. De surpresa, que é muito mais divertido.
Se eu fosse Ministra da Educação, ia ser mais odiada que qualquer uma que por lá já passou.
Se eu fosse Ministra, contratava supervisores estranhos à escola e punha-os a bater à porta das salas de aula. De surpresa, que é muito mais divertido.
Se eu fosse Ministra da Educação, ia ser mais odiada que qualquer uma que por lá já passou.
13.10.10
PERCURSOS
12.10.10
DIFERENÇAS
11.10.10
10.10.10
MÃOS ENTRETIDAS
A chuva caía no rio sem se ouvir. Porque se ouviam vozes e gestos. Porque se bebiam palavras e todas as mãos se entretinham. Porque era o tempo do riso e de todos os amigos. Porque era a noite em que ele sentia mais que sangue.
9.10.10
8.10.10
7.10.10
ESCURO
6.10.10
HOMENS E FLORES
3.10.10
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