30.9.08

ANEDOTA


(Mário Cesariny)

Parece que a avaliação dos professores é anedota ainda maior do que se julgava. Professores de Filosofia avaliam pares de Geografia professores de Geografia avaliam disciplinas de que nunca ouviram falar por se tratar de matérias leccionadas à noite, cenário desconhecido para os professores do regime diurno. Tudo dentro da maior legalidade.
Se, um dia, for a uma consulta de ortopedia e o médico estiver a ser avaliado por um especialista em ginecologia, não me surpreenderá. Tudo é possível no país da ameijoa à Bolhão Pato.
A vontade de me rir ainda não parou. Preciso de químicos. JÁ.

29.9.08

15- MÁRIO CESARINY



Pintor e poeta português, natural de Lisboa, nasceu a 9 de Agosto de 1923.
A sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça. Mais tarde, viria a frequentar a Academia de La Grande Chaumière, em Paris, cidade onde conheceu André Breton, em 1947. Rapidamente atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, tornou-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal. Ainda nesse ano, integrou o Grupo Surrealista de Lisboa.
Cesariny, figura sempre inquieta e questionadora, afastava-se assim, de maneira definitiva, do movimento neo-realista.
Dinamizador da prática surrealista em Lisboa, iria criar «antigrupos», com a mesma orientação mas questionando e procurando um grau extremo de espontaneidade, tentativa também visível na sua obra poética.
Morreu em Lisboa a 26 de Novembro de 2006.

25.9.08

TUDO RESOLVIDO


(E. Hopper)

Quando eu for mais crescida, quero sentar-me na varanda de uma casa imaginada e poder dizer que tudo o que fiz, valeu. Um dia, quando eu for mais crescida, quero uma casa com varanda, olhar para longe e perceber que, atrás de mim, está tudo resolvido.

24.9.08

FELIZ ANIVERSÁRIO

Ao Sem Pénis Nem Inveja, vida longa e bonita. Que permaneça uma referência na blogosfera e no quotidiano de quem gosta de ler a qualidade.
Feliz Aniversário, Teresa.

A SAUDADE MORREU


(E. Hopper)

Depois de muito tempo sem falarem, ela recebeu um e-mail. Tinha três linhas e duas intenções. Leu-o e colocou a mão no queixo de forma a que o tempo lhe sugerisse resposta. Enviou-lhe não mais que duas linhas e três intenções. Depois, quando a esplanada já não tinha sol e os dois não se entenderam, a vida ficou diferente, as costas de quem se deita menos curvas e cansadas. Porque tudo parece acabar quando a ausência supera a saudade e o sono aniquila a memória.

23.9.08

VIDA


A vida é uma peça, mas sem ensaios. Por essa razão, canta, dança, chora e ri intensamente, antes que o pano caia e a peça termine sem aplausos.



Charlie Chaplin

22.9.08

POSSIBILIDADES


(E. Hopper)

- Estás a dizer a verdade?
- Estou a dizer-te a verdade possível.

19.9.08

POUCOS SABEM DE MIM


(E. Hopper)

Como já vem sendo hábito, este blog pára aos fins de semana. A falta de assunto e o capricho assumido de que, dois dias na semana, poucos sabem de mim.

18.9.08

ESCASSEZ


Papéis, relatórios, porte-fólios, planos, matrizes, reuniões e chatices. Não sobra tempo para olhar.

16.9.08

É PRECISO ROMANCE


(E. Hopper)

As gentes andam desencantadas. Com o país em regressão económica e social, o lugar é curto para afectos, escondem-se, dissimulam-se, são substituídos por queixume, maleita, choradinho e desânimo.
É preciso romance, enamoramento, entrega aos prazeres que ainda nos concedem, aos que temos dever de procurar todos os dias, entre o trabalho e o sono.As gentes andam tristes, os amigos atarefados, os pais ocupados, os filhos cansados, os professores desprotegidos, os advogados pensativos e os juízes aglomeram processos em tribunais sobrecarregados de burocrata burocracia.
As gentes andam com o passo da incerteza e da desgraça, anunciada a cada dia que ligam a televisão. Fala-se de crise ao almoço e ao jantar, de falta de dinheiro, de falta de força e alegria para rir alto.
Não há romance, o corpo pede cama sem sexo e sumo de lima sem cachaça. A alma anestesia-se com as novelas da TVI e as novidades pretas que enchem espíritos menos optimistas. Não há energia para amar com a força da onda e da música. Começam, as gentes, a não entender por que razão recorrem às consultas de psiquiatria, por que motivo estão sozinhas, por que raio têm de contar o dinheiro para pagar as contas, deixar de andar de carro, adiar férias no estrangeiro, deixar de comprar um par de sapatos porque sim.Antes do perigo anunciado pela tristeza quase imposta, é urgente o romance, a nudez, o gemido, o grito, o suor, as palavras, a entrega e o contentamento.

15.9.08

COISAS QUE ME INQUIETAM (7)


O tempo perdido em palavras inúteis e ideias estéreis é obrigatório. A angústia do desassossego porque se não chega a lado nenhum e se finge que chega, é uma realidade tão desesperante quanto a falsa ideia de sucesso.

13.9.08

14 - EDWARD HOPPER



Nasceu no estado de Nova Iorque a 22 De Julho de 1882. Estudou arte comercial e pintura na cidade de Nova Iorque. Um dos seus professores, o artista Robert Henri, encorajava os seus estudantes a usar as suas artes para "fazer um movimento no mundo". Henri, uma influência para Hopper, motivou estudantes a fazerem descrições realistas da vida urbana.
Realista imaginativo, retratou com subjectividade a solidão urbana e a estagnação do homem, causando ao observador um impacto psicológico. A obra de Hopper sofreu forte influência dos estudos psicológicos de Freud e da teoria intuicionista de Bergson, que buscavam uma compreensão subjectiva do homem e dos seus problemas.
O tema das pinturas de Hopper são as paisagens urbanas desertas, melancólicas e iluminadas por uma luz estranha. "Os edifícios, geralmente enormes e vazios, assumem um aspecto inquietante e a cena parece ser dominada por um silêncio perturbador".
Obras de estilo realista imaginativo. Arte individualista. Expressão de solidão, vazio, desolação e estagnação da vida humana, expressos pelas figuras anónimas que jamais se comunicam. Pinturas que evocam silêncio e reserva, exercendo frequentemente forte impacto psicológico.
Morreu a 15 De Maio de 1967, no seu estúdio próximo do Washington Square Park, na Cidade de Nova Iorque. Sua esposa, a pintora Josephine Nivison, morreu dez anos depois. Doou o trabalho do marido ao Whitney Museum of American Art.

12.9.08

FORA


Ir para fora, como se todas as pessoas tivessem deixado de existir.

11.9.08

DEFESA

Ficar na cama, sem deixar que o mundo zombe de nós. Não gosto do dia 11 de Setembro.

10.9.08

BOLHA E CANSAÇO


(Manuela Pinheiro)

Que, dentro da bolha do abraço, fique a consciência de um mundo por viver. Nada que se perca e que interesse. Espaço e tempo excluídos por desgraça de não obliterarem a vida como quero.


(Manuela Pinheiro)

EXAGERO


Em Agosto paro para não pensar. Depois, quando o relógio volta ao pulso, o mundo parece-me diferente. Talvez por ter zombado dele tempo demais.

9.9.08

O TEMPO QUE JÁ ACABOU


(Manuela Pinheiro)

A ausência de conhecimento, protege-me da angústia. O que há-de vir pode ser tão bom quanto mau. Sorrio com a mesma satisfação com que como o último gelado de um tempo que já acabou.

5.9.08

AFECTOS


(Manuela Pinheiro)

Às vezes, a forma como respiramos é sentida na força de um abraço ou na ténue incerteza do que se revela. Aos afectos se devem as verdades que o corpo não desmente.

4.9.08

MUSEU DAS IDEIAS


(Manuela Pinheiro)

A sensação áspera dos pés nus no chão transformava-a numa espécie de selvagem civilizada. Na recepção confirmaram-lhe a visita ao museu:
- Está tudo pronto para a viagem “menina”.
No parque de estacionamento, um carro pequeno com grandes inscrições nas portas: O caminho é seu! Entrou no automóvel e viu um mapa da região com alguns pontos marcados a encarnado, a verde e a amarelo. Não havia nomes para os lugares indicados nem para as estradas a percorrer. O senhor de casaco branco sorriu e fechou-lhe a porta, de novo com deferência – Boa viagem, o caminho é seu!
Saiu devagar da propriedade que envolvia o hotel, muitos pássaros a acompanharam até ao portão que se fechou atrás de si. O mapa indicava um caminho possível - a estrada à direita era o início da viagem. Decidiu virar à esquerda em direcção ao ponto encarnado mais próximo.
Percebera que o museu das ideias era uma espécie de lugar a descobrir enquanto conduzia por estradas e caminhos desertos, por dentro de árvores densas e pedras duras, por cima de algumas montanhas com o céu como horizonte.
Depois de ter passado o ponto encarnado, marcado no mapa, percebeu que se tratava de lugar de contemplação, de espaço sagrado construído para corpos sedentos de evasão. Foi entendendo que todos os pontos amarelos eram lugares vazios de vegetação e que os verdes indicavam muita água, vida, nudez, grito e vibração.
Parou em frente a uma cascata. Estava descalça e só. Selvagem. Despiu-se e gritou para a montanha. Gritou muito, como se o mundo a ouvisse e não pudesse mandá-la calar. Entrou na água e esteve o tempo inteiro em si, como se pudesse ter nascido naquele instante. Entrou no espaço que conhecia, o do seu eu. Vibrou com a água e o ar.
Este não é o museu das ideias, pensou. Este é o lugar que se descobre porque se sente o orgasmo da vida em cada silêncio e em cada sopro. Este é um bocado de mundo que se visita para que se não pense, talvez por isso lhe tenham dado o nome errado.

3.9.08

TEMPO DOS DESTINOS INDIFERENTES


(Manuela Pinheiro)

Pousou a mala atrás de uma porta pequena que dava acesso à casa de banho do quarto. Parecia já ter estado ali. Deitou-se em cima da cama e fechou os olhos, depois de olhar o tecto muito branco. Pousou os pés no chão e imaginou os dias que lhe faltavam para o regresso. Percorreu um a um, não encontrou mais que horas vazias. Depois de abrir os olhos, o espelho grande pendurado em cima da escrivaninha, reflectiu a imagem que não queria ver. Virou-o ao contrário. Agora sou ninguém, pensou. Por dias me encontrarei com o mundo que não conheço. Bateram à porta. A menina queria apenas confirmar se estava tudo em ordem. Entrou e, num gesto delicado, colocou a travessa de fruta em cima da mesa. A frase de boas vindas foi-lhe oferecida com um sorriso e, de novo, o silêncio se instalou no quarto 322.
Depois do banho, os pés e as mãos receberam o creme necessário para a paragem que há tanto aguardavam. Nus, os pés percorreram corredores alcatifados até à piscina. Não desviou o olhar. Era em frente o caminho. Pousou o saco ao lado da cadeira branca e descansou. Não se ouvia coisa nenhuma, como se o silêncio pronunciasse as palavras de uma paragem bonita. Voltou a fechar os olhos com firmeza.
- Bom dia, queira desculpar, daqui a trinta minutos há uma pequena visita ao museu das ideias. Está interessada na viagem?
- Ouvi falar desse lugar há muito tempo, quando, na faculdade, pensava ser possível a materialização de alguma coisa que não se visse. Não gosto de viagens marcadas.
- As pessoas costumam gostar, posso marcar lugar para si?
Pensou três segundos, abriu os olhos para ver quem lhe falava. Era um senhor de casaco branco assertoado. Tinha um ar altivo e olhava-a com deferência.
-Disse-lhe que não gosto de visitas com guia nem de tempo marcado para o prazer. Abro uma excepção a esse lugar. Posso ir descalça?
- Pode, claro.
- Obrigada. Estarei na recepção daqui a trinta minutos...

2.9.08

MAIS QUE O MAR


(Manuela Pinheiro)

Encontrei, na praia, uma concha que me disse ter muitas histórias para contar. Pousei-a na areia. Não quis ouvir mais que o mar.

13 - MANUELA PINHEIRO



Diplomada em Pintura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Curso de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras de Lisboa. Curso de Gravura na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses GRAVURA . Bolseira de Fundação Calouste Gulbenkian durante os anos de 1964 e 1966.
Viajou e trabalhou em Espanha e França. Bolseira da Embaixada de Espanha em Portugal, para trabalhar no Centro de Calcografia e Gravura de Madrid. Trabalhou em Madrid sob a orientação de Juana Mordó. Bolseira do Instituto de Alta Cultura para investigação e especialização na Técnica de Gravura da Escuela Superior de Bellas Artes de San Jorge, em Barcelona e no Centro de Grabado Conservatório de las Artes de Barcelona.
Em Paris trabalhou com o artista gravador Kyu Baik Hwang, realizando gravura em relevo e a cores. Presentemente continua a dedicar-se à sua actividade de Pintura, Gravura e Desenho. Exerce em paralelo actividades pedagógicas, desde 1964, junto do Ministério da Educação. Assessora Cultural - Gabinete do Secretário de Estado da Administração Educativa.
Expõe desde 1959, participando em inúmeras exposições colectivas e individuais em Portugal e no estrangeiro.

1.9.08

"METAMORFOSE AMBULANTE"


O meu amigo Pedro viajou para longe. Saiu de Lisboa no final de Agosto e voltará daqui a um ano. Muito tempo à espera de uma viagem de sonho. Desejos bons e muita energia para poderes beber outras águas, cheirar outros odores e sentir outros mundos. Força, Pedro, acompanhar-te-ei via blog. Sempre. Fica o beijo.