26.9.12

Sem fios

Era uma vez uma marioneta descontente. As mãos que a comandavam não estavam à altura dos seus movimentos porque eram pouco sábias. Com todo o instinto da força posto em gestos descoordenados e feios, a marioneta fazia o que os donos das mãos queriam que fizesse. Um dia, consciente de um comando incompetente, cortou os fios com os dentes e percebeu que, sozinha, podia resistir. Acordou com a leveza das decisões difíceis e o descontentamento transformou-se em grito dobrado e aceso.

16.9.12

Vento que vem de dentro

E agora vou ali respirar, como se faz quando se está calado por força de circunstâncias. Respirar bem alto, para que muitos oiçam o vento que vem de dentro e sintam o grito que não se deu. Vou ali respirar para não esquecer que estou viva.

6.9.12

Branco ou um dia não teremos uma história para contar




















E se um dia descobrir que a vida que tem não lhe agrada? E se um dia pensar sair de um casamento morto por dentro e cheio de nadas por fora? Tem coragem para começar tudo de novo, ou nada de novo haverá para descobrir? 

Texto e encenação: Mariana Rosário. 
Interpretação: João Abel e Maia Ornelas.

Estreia dia 13 de Setembro no Teatro da Comuna em Lisboa.

Eu vou sentar-me numa cadeirinha, lá bem no fundo da imaginação de um homem que recorda afectos maternais.

2.9.12

Queixa que não é queixa


Ainda não me apetece. Porque a vontade ficou debaixo das ondas com espuma branca. Ainda percebo o som das gaivotas enquanto, na cama, tentei dormir o sono dos que estão longe. Ficar perto de quem nos faz coisas boas é bom. Amanhã é dia de coisas más, porque más são as coisas que vivemos ao contrário da vontade. As palavras podem soar a injustiça ou cheirar a arrogância. Temos vontades trocadas e, quase sempre, o que aos outros acontece supera o que a nós calha. Sempre assim, porque sempre insatisfeitos e estupidamente queixosos.