30.9.09

TESTE DO BALÃO DEPOIS DE ALMODÔVAR


(Foto de Jet)

Passava das duas horas da manhã. O carro ia com ela, devagar, sem drogas e sem álcool. As luzes acenderam-se ao fundo da rua, antes de entrar no túnel da João XXI. Um senhor fardado com uma espécie de pirilampo na mão acenou para que encostasse. Ficou nervosa:
- Boa noite, os documentos da viatura por favor.
- Com certeza.
Entregou-lhos com um sorriso e apagou o cigarro no cinzeiro, não fosse ser multada por poluir a cidade.
- Bilhete de identidade, por favor.
- Com certeza, mas olhe que é fotocópia.
- Fotocópia? Porquê?
- Queria ter apenas fotocópias comigo por causa dos assaltos, mas parece que é ilegal.
- Não, não é, desde que autenticadas.
Rodopiou em volta do carro e sorriu:
- Alguma vez fez o teste do álcool?
- Nunca.
- Bebeu?
- Não, acabei apenas de consumir o último filme do Almodôvar, não sei se isso acusará alguma coisa.
Fingiu não ter entendido, ou não entendeu mesmo. Levou-a para junto de mais dois polícias com ar porreiro e mandou soprar no tubinho transparente. Zero.
- Afinal, o consumo de filmes do Almodôvar não acusa na máquina.
- Pelos vistos não.
Entregou-lhe os documentos e desejou noite feliz.
Chegou a casa sem entender se o polícia lhe sorria por causa da fotocópia do bilhete de identidade ou por razões de incultura cinéfila.

29.9.09

COISAS QUE ME INQUIETAM (15)

Não saber quem vai mandar na minha vida profissional. Ficar em ausência durante semanas, com os papéis na mão e as pastas por arquivar. Permanecer num limbo que, deixando de existir, permitirá o avanço ou o recuo.

28.9.09

NADA FÁCIL


Foto de João Azevedo

Não está fácil gerir este blog. As publicações diárias têm saído a ferros. Não sei se por causa de mim se por motivos profissionais densos. De qualquer forma existo. É o que me vale.

27.9.09

NÃO HÁ QUEM AGUENTE

Então agora que eu ia votar e descansar dos dias de campanha que me deixaram exaurida e com sensação de entupimento intelectual, dizem-me que amanhã começa nova campanha para as autárquicas? Mas há alguém que aguente? Vou desligar a televisão da ficha até dia 10 de Outubro. Apre!!

ALTIVEZ DE PLÁSTICO


Helen Frankenthaler

Sempre constatei que, para as meninas dos guichets de hospital, vestir bata branca entranhava sentido de poder e domínio. Sem formação que alicerce um bom atendimento ao público, assumem postura de uma qualquer parola “poderosa” que, na posse do tempo alheio, debitam frases de alto como “vai ter que aguardar”.
Sem quererem dizer quanto tempo vamos ter que esperar, a altiva postura adensa-se por trás dos óculos de marca bem visível, não vá o doente ou cliente do consultório pensar que a menina de bata branca não tem carteira recheada de euros. Os que, à mercê de quem não sabe gerir o tempo, se sentam a olhar para o ponteiro das horas, ali ficam, entre a estupidez escondida na caneta que usam e a altivez patente em cada frase que ditam, de cabeça baixa.

26.9.09

DOBRAS E GRITOS (37)

Profissionais na era da tecnologia, em pleno século XXI fogem a sete pés do correio electrónico. Parecem enguias a esbarrar por entre água turva, com medo que o e-mail infeste a sua identidade.
No meio de semelhantes gentes, quem quer vingar por via de uma comunicação rápida, eficaz e sem ruído, passa por controlador maléfico e manipulador execrável.
Põem Magalhães nas mãos de criancinhas que, mais não fazem, que jogar super tux e depois, as mães e os pais das ditas, resvalam na falsa ignorância informática para que a incompetência não fique registada nas páginas do correio electrónico. Cambada de retrógrados que ainda não aprenderam nem a usar a Internet nem a perceber que pode, a mesma, facilitar o trabalho e o tempo a quem já não o tem.

25.9.09

SEM EXPERIÊNCIA


João Cutileiro


No dia em que foi mãe, percebeu que o medo que não viu no rio tinha fugido. Para perto das mulheres sem experiência.

24.9.09

O MEDO NO RIO


João Cutileiro

No dia em que soube que estava grávida, foi sozinha para perto do rio. Julgava que podia ver o medo reflectido na água.

23.9.09

PASTA CASTANHA


Marcel Duchamp

Era uma vez uma professora morena. Tinha uma pasta de cabedal castanho e usava sapatos da mesma cor. O cabelo preto denunciava, pelo penteado certo, a previsibilidade dos gestos. As palavras, estudadas com detalhe, nada de novo traziam à sala. Porque a vida daquela pasta e daqueles cabelos era igual, desde o dia em que o mundo se lhe apresentara como monótono.

22.9.09

BODAS DE PRATA


Marcel Duchamp

Divorciado há 25 anos, pensou ser importante brindar a uma data que não chegou a existir. As bodas de prata de um casamento há muito acabado.

21.9.09

ESPUMA AMARELA


Marcel Duchamp


Todos os dias de manhã, enquanto fuma o cigarro e bebe o café, olha pela janela. Vê pessoas ausentes numa subida íngreme que dá acesso ao barracão procurado pelos que fazem do tráfico e do consumo, modo de vida. Depois, o homem encosta-se à parede e urina, em espalhafatoso banho de espuma amarela!

19.9.09

TONTURA


Juan Muñoz

Assim não vamos lá, amigo. Fica com as tuas palavras que eu fico com as minhas pessoas. Podemos rir os dois mas, só eu permaneço na tontura das ideias alheias.

18.9.09

A INTELIGÊNCIA DO RICARDO


Juan Muñoz

Não fosse Ricardo Araújo Pereira tão inteligente e, julgo, a beleza do comediante restaria na cave de um edifício soberbamente construído.

17.9.09

PERMISSÃO


Juan Muñoz

Sentaram-se. O cansaço do corpo pedia. Apesar de nada poder ser como devia, a paragem do riso era permitida.

16.9.09

POSSIBILIDADE DE RIR


Juan Muñoz

Eles estavam contentes. Apesar do tédio da campanha eleitoral, do marasmo das entrevistas e da conversa repetitiva, agora tinham, no programa do Gato Fedorento, possibilidade de rir, mesmo que as caras fossem iguais.

14.9.09

QUIMERAS SIM, SEXO NÃO


Paul Klee

Como um camponês que se dedica ao seu trabalho o ano inteiro, Kant não tinha férias. Criado no seio de uma família numerosa e modesta, o seu estatuto de intelectual era já um triunfo. Queriam que ele viajasse e que se casasse. A sexualidade de Kant intrigava os seus contemporâneos. Face à pergunta: “terá alguma criada de quarto gozado dos favores do filósofo?” Kant nem se dignou responder.
Melancólico e alucinado, com um regime de vida obsessivo e patológico, afirmava: “deixem-me com as minhas quimeras, são elas que garantem a minha sobrevivência”.
Sabe-se do seu celibato. Nunca ninguém entendeu se ele manteve a castidade. A certeza é a de que conhecia a sensualidade porque apreciava comida.

13.9.09

ETERNAS MELODIAS



Há melodias que nunca foram início de programa. Ficam aqui. Para lá do tempo, há a permanência no espaço, seja ele qual for.

12.9.09

"UM VAZIO NO TEMPO"


"Numa das últimas vezes que estive na Expo em Lisboa, descobri estranhamente, uma pequena sala completamente despojada, apenas com meia dúzia de bancos corridos. Nada mais tinha. Não existia qualquer sinal religioso e por essa razão pensei que tinha descoberto, que aquele espaço se tratava de um templo grandioso.
Quase como um espanto, senti uma sensação que nunca sentira antes e, de repente, uma enorme vontade de rezar não sei a quê ou a quem. Fechei os olhos, apertei as mãos, entrelacei os dedos e comecei a sentir uma emoção rara, um silêncio absoluto e tudo o que pensava, só poderia ser trazido por um Deus que ali deveria viver e que me ia envolvendo no meu corpo amolecido. O meu pensamento aquietou-se naquele pasmo deslumbrante, naquela serenidade, naquela paz.
Quando os meus olhos se abriram, aquele meu Deus tinha desaparecido em qualquer canto que só ele conhece, um canto que nunca ninguém conheceu e quando saí daquela porta, corri para a beira do Tejo para dar um berro de gratidão com a minha alma e sorri para o Universo.
Aquela virgula no tempo, foi o mais belo minuto de silêncio que iluminou a minha vida, que me fez reencontrar, e me deu a esperança, que num tempo, que seja breve, me volte a acontecer.
Que esse meu Deus assim queira."

Raúl Solnado

CEDO E DEVAGAR


Sairá de casa cedo. Para perto de quem amou com a alma cheia de riso e o corpo parado às palavras e às mãos. De quem sabia entregar a sabedoria inteira. A paz ficará com quem a disse. Sempre.

10.9.09

QUE IMPORTA?


(Foto de Robert Doisneau)

Se a vida fosse muito curta, se tivéssemos tempo contado para estar com as pessoas e num espaço de eleição, o medo desaparecia, a raiva não existia e a morte era aceite com naturalidade. Depois ninguém se lembrava de nós mas… que importa?

9.9.09

FELIZ ANIVERSÁRIO

Um ano de excelência. Parabéns ao PNet Literatura.

HÁ VIZINHOS ASSIM



Um simpático vizinho que se dedica à pintura. A troca de impressões sobre os livros e a vida, numa mesa de café perto de casa, levaram à publicação de um dos seus muitos trabalhos. Ali em cima, num andar alto de onde se avista a torre da igreja e o sino que bate as badaladas em compasso. Obrigada, vizinho!

8.9.09

ASSIM NÃO DÁ


José Gil já o tinha escrito. Sobre os Portugueses, o medo, a identidade perdida e uma certa forma de agir que, mais não é que reflexo da história mal resolvida.
O filósofo volta a escrever sobre os portugueses e o modo como o governo manipula a consciência colectiva.

O Chico espertismo típico de um povo que prefere contornar a lei a tomá-la como regra de conduta. Um povo que escolhe furar o sistema a impor-se, quando a necessidade de afirmação se deveria sobrepor à maquinação nojenta debaixo da engrenagem, sem ninguém ver. A história velha de que o problema não é roubar, é ser apanhado. Não soubemos gerir a revolução e, em vez de um “homem novo”, nasceu um homem que anda para trás, como se preferisse o autoritarismo à individual responsabilização.

Aqui, José Gil fala da educação, como mais ninguém o fez. Quando a afectividade é castrada no processo de ensino/aprendizagem, tudo está perdido. O Chico espertismo entrou na escola. Não interessa saber, interessa o diploma. Nada mais a declarar!

7.9.09

O QUE É QUE EU FAÇO COM A SAUDADE


O sentimento que rói cá dentro é muitas vezes sentido como provisório, uma espécie de bicho que entra para nos atormentar as entranhas. Vagueia por onde quer, passeia pela alma e corrói o corpo devagar. A saudade de um cheiro, de uma casa, de uma cama, de um lugar bonito, de um objecto, de uma viagem. A saudade do que se vive e não mais se encontra. Os lugares podem ser revisitados, mesmo quando o jardim já se transformou em prédio. Podem refazer-se viagens e a procura de cheiros de infância é possível, quando queremos encontrá-los lá, onde há muitos anos deixamos cair a bola pela ravina ou a boneca se estragou nas escadas estreitas de um corpo pequeno debruçado na sensação de brancura.



Quando a saudade é infinita, o bicho deambulará na alma até que o corpo desapareça. A saudade definitiva, fatal, irreversível. A saudade dos que morrem, daqueles a quem não podemos voltar a telefonar para dizer que estamos bem, os que não podemos voltar a abraçar, oferecer bombons para o café depois do almoço. A saudade incontornável, fora do tempo, de controlo e de escolha, para lá do que podemos revisitar, rever, voltar a ir, a estúpida sensação de impotência, o imbecil vazio que nos enche de raiva e de grito.


Já não posso beijar, já ninguém atende o telefone, já não posso rir e dar as mãos, dizer que gosto muito, enviar e-mails, conversar, tirar uma foto à socapa, enquanto arrumas os talheres depois da refeição. Já não posso vestir a tua camisa de flanela quando está frio, ver-te abrir a porta com um sorriso, pedir-te opinião, ajudar-te a procurar os óculos no escuro do cinema.


Agora a saudade é a sério, sem transitoriedade, vivida dentro, com o bicho a roer as entranhas de cada vez que lembro tudo o que eras. Agora já não existem mãos para agarrar. Os lugares estão lá, como quando os ocupávamos. Os cheiros recordam-se em tempo e espaço semelhantes aos que tínhamos. Os objectos perduram, enquanto nós quisermos olhá-los.


Os que morrem só voltam em momentos de riso e de lágrimas, como que a lembrar-nos que, apesar da ausência, permanecem numa saudade que ainda não aprendemos a ter como eterna companheira.


Talvez essa coisa triste que aperta a alma contra as costas seja aquilo que mandam os ausentes para nos ensinarem a lembrança.

5.9.09

SPENCER TUNICK


Desde 1992 que Spencer Tunick documenta a nudez das multidões. As suas instalações consistem de dezenas ou mesmo centenas de figurantes voluntários que posam em locais públicos. A massa de indivíduos sem roupa, agrupados num qualquer cenário, dá-lhes um significado completamente diferente. Segundo o autor, esse grupo de pessoas torna-se uma abstracção que desafia e reconfigura a nossa visão da nudez e da própria privacidade.
Spencer Tunick (Middeltown, 1967) é um fotógrafo americano, conhecido por este tipo de fotografia. Como curiosidade, refira-se que em 2005 foi detido pela polícia de Nova Iorque quando fotografava uma modelo que posava nua perto de uma árvore de Natal no Rockfeller Center.


4.9.09

DOBRAS E GRITOS (36)


Quando os dias começam a restaurar rotinas perdidas, vem a saudade de encontrar a casa que não voltarei a ver.

3.9.09

SENTADA NAS ESCADAS


Brancusi

Estava sentada nas escadas que dão acesso ao centro comercial. A perna esquerda esticada até ao passeio e a mão estendida. Olhava nos olhos de quem lhe punha uma moeda na mão. Todos os que paravam tinham direito a um sorriso e três palavras: “Deus o abençoe”.
A mulher devia ter mais de setenta anos, vestia roupa limpa e muito usada. As meias tinham borbotos antigos. Trazia consigo um pequeno livro que denunciava uma doença: diabetes.

Depois de muitos passarem sem olhar, o homem atravessou a rua e sentou-se ao lado da mulher sozinha. Cumprimentou-a e ficou a conversar.
- De que precisa?
- De paz, meu senhor, de paz.
- Mas não pede paz a quem passa, pede dinheiro.
- Peço dinheiro para que o meu estômago possa ter paz. A reforma não me chega para pagar todas as contas, preciso de pedir para comer. E a paz não se pede a ninguém, busca-se com muita firmeza.
- Já a encontrou?
- Quem?
- A paz de que precisa.
- Não consigo. Ando nesta vida sem paz nenhuma, meu senhor.
- Quer contar-me?
- Tenho três filhos que não me ajudam e uma neta que me impedem de ver.
Começou a chorar sem medida. As lágrimas surgiram para calar as palavras que já não pronunciava com clareza.

O homem ficou sentado ao lado da velha mulher, traçou as pernas e ofereceu-lhe o lanche. Desembrulhou um pão e foi buscar dois pacotinhos de sumo. Ficaram longos minutos a conversar.

Ouvi a mulher a sorrir enquanto partilhava o lanche, vi o senhor a entregar-lhe o número de telemóvel e a morada de uma instituição de apoio aos sem abrigo, vi os dois a trocar experiências e afectos.
- Sabe uma coisa meu senhor?
- Diga.
- Nós não somos nada, nós estamos na vida de passagem e não entendemos isso.
- Porque diz isso?
- Porque eu também não entendi. Foi preciso chegar a isto para abrir os olhos e agora é tarde demais.
- Nunca é tarde.
- É, meu senhor, é.

2.9.09

AO LADO DO BALNEÁRIO


Helen Frankenthaler

Encostou a cabeça e fechou os olhos. O jacuzzi estava vazio. Relaxou todos os músculos e manteve os olhos bem dentro de si. Não se ouvia mais que água, bolhas que lhe iam percorrendo o corpo. Continuou quieta com as costas em frente ao jacto mais forte. Parou o gesto. Lembrou as senhoras e os senhores que se reuniam no meio dos cacifos do balneário, os que tinham toalha branca enrolada ao corpo e falavam muito. Lembrou-se das conversas sobre textos e livros e deixou-se ficar, a mastigar todas as sílabas que não eram suas.

O apetite das recordações era sempre o maior apetite. Das senhoras recordava o riso, a elegância no trato, a inteligência. Dos senhores, mantinha viva a memória do charme, o raciocínio pronto e a ironia. Queria, um dia, juntar-se à mesa do balneário misto, intrometer-se, ouvir e falar, dizer e escrever. Iria propor às senhoras temas sobre o feminino da existência, a eles declararia guerra, postura assertiva nas palavras com testosterona. Iria dizer a todos que os lia, que queria continuar a lê-los.

Abriu os olhos por entre as bolhas grossas de água que se espalhavam na gigante banheira. O Jacuzzi já não estava vazio, todos os que antes eram memória tinham entrado no mesmo lugar de onde, agora, ela saia envergonhada.

1.9.09

BALNEÁRIO MISTO


Num balneário de Lisboa, homens e mulheres estão para conversar, depois do treino intenso, da música batida, dos corpos em desassossego, dos gritos com as palmas, do step subido, do step descido. A alegria espalha-se pelas janelas que dão acesso ao jardim no meio da cidade.


As mulheres entram com toalhas enroladas na cabeça e no corpo, os homens usam-nas para atar à cintura, depois do duche. Há música e aquecimento, risos e cremes, cheiros e pés descalços, cabelos e braços que se secam do estar transpirado.

No centro de um corredor de cacifos, os corpos treinados recostam-se em poltronas de pele falsa. Laranja em sumo, amêndoas sem casca, queijos diversos, canetas, papel e livros. Todos se olham para entender o sexo das palavras, escrevem enquanto sílabas entram numa espécie de corrida literária. Eles têm o prazer do dito, elas desenham o escrito, depois de goles de sumo espesso.

Em intenção escrita é posto o sentido, o que se materializa dentro de cada gesto.
As palavras têm o masculino e o feminino, como as pessoas. As palavras desenham-se com as mãos, intensificam-se no diálogo.

Em balneário misto há gente que treina ideias, pessoas que ajustam as letras ao seu significado, há o treino do estar pouco quieto, do estar para escrever. Depois cria-se o texto, o que antes era pó e solidifica em folha.

Sabem todos que palavras não vivem sem gente, nelas, o sexo define-se pelo desenho na frase. Sabem todos que palavras são bocados de pessoas num balneário aberto ao que se escreve em formato diverso, conforme são diversas as formas de traçar a perna, quando os corpos se sentam.