(Mário Cesariny)
Amor é quando a gente pensa que pode engolir a vida toda. Amor é quando a gente espreita pelo buraco da fechadura para ver outra nudez. Amor é quando a gente explica às amigas que respira mais fundo.
Amor é quando a gente abraça um filho e entende que o mundo é muito mais bonito do que julgávamos. Amor é quando a gente desmancha a cama inteira de cheiro e pensa que os próximos lençóis vão também cheirar assim. Amor é quando a gente sabe que o silêncio pode ser mais gordo que as palavras.
Amor é quando a gente calça os sapatos pretos e se transforma em mulher rainha. Amor é quando a gente se despe devagar e pede ao céu uma luz que grite o desejo. Amor é quando a gente chega a casa com o fôlego preparado para entregar tudo. Amor é quando a gente ensina a nossa filha a ser mulher, sem pressa de a tornar adulta. Amor é quando a gente telefona porque sim. Amor é quando a gente pensa, todos os dias, coisas surpreendentes. Amor é quando a gente abre um livro de histórias e julga que as letras são nossas. Amor é quando a gente explica aos alunos que existe paixão.
Amor é quando a gente fica com dor nas costas porque descuidou um só dia de respiração. Amor é quando a gente mata o ego e percebemos que ele existia só para dificultar. Amor é quando a gente principia fins que julgávamos terem ido embora. Amor é quando a gente estica os braços até ao que o outro não disse. Amor é quando a gente faz tudo com a carne de quem agarra a vida, crua e fabulosa.
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