31.5.10

OPÇÃO


(Foto Gerard Castello Lopes)

Há duas maneiras de viver: participando ou assistindo. Se optarmos pela primeira, acabamos no psiquiatra. Se optarmos pela segunda, divertimo-nos imenso!

28.5.10

O QUE NÃO TEMOS


Francis Bacon


“Porque nos falta sempre mais do que aquilo que temos e porque as pessoas que não nos convidam são sempre mais que as que o fazem. A nossa percepção do que tem valor será, portanto, radicalmente distorcida se condenarmos sempre como entediante tudo aquilo que não temos, simplesmente porque não o temos”
Alain de Botton

26.5.10

AS PALAVRAS (1)


Algumas palavras têm poder positivo. Uma sensação de leveza me invade quando oiço a palavra “encanto”. Apetece-me correr para o colo da “menina” ou do “menino” que profere tal vocábulo. Porque “menino” e “menina” são palavras encantadoras.

25.5.10

AS PALAVRAS

Algumas palavras irritam-me. Depois de ouvir um “fofinha” ou de me enviarem “beijocas”, corro para a banheira. As expressões provocam-me calor nas axilas e comichão na barriga das pernas. Só um duche e um creme de altíssima qualidade me permitem a sobrevivência.
Há também quem pense na tarde boa e no bom dia na forma plural. “Boas tardes” ou “bons dias” são ditos ao mesmo tempo que um tremor me invade de cima a baixo. Quando me agradecem com um “obrigadinha”, começo a espumar da boca e só não tenho um ataque porque não sofro de epilepsia. Que eu saiba.

24.5.10

DESIGUALDADE

"Quando um está farto daquilo que o outro acha que é óptimo, é desigual e dá mortos"
A.C.S.

22.5.10

TENHO UM AMIGO LONGE


Tenho um amigo longe. É diferente de mim. Os afectos desenvolvem-se sem corpo. Quando toco nas teclas acontecem palavras. O meu amigo está lá, à espera que as linhas se construam devagar, junto às ideias contrárias. Tenho um amigo que, do outro lado, me ensina a pensar. É preciso ausência para entender as dúvidas.
O meu amigo não me vê mas percebe quando me vou embora e fica em silêncio. Um dia desapareceu para se encontrar com a vida. Talvez tivesse percebido que as linhas começavam a ser curtas.
Sei onde ele está. Percebo os sentimentos dos que ficam longe para poderem respirar. Voltará quando a vida lhe disser tudo o que procura entender. Perto do mar!

21.5.10

MOMENTO FACEBOOK (5)


- Já te contei a novidade?
- Devo sentar-me?
- Figura de retórica ou escreves de pé?
- Escrevo de pé e só com uma mão. Na outra tenho a espada.
- Lá estás tu convencido de que és igual ao Camões.
- Está bem. E essa novidade?
- Terminei o livro e pensei chamar-lhe “Livro do Desassossego”. O que achas?

20.5.10

MOMENTO FACEBOOK (4)


- Estou cansada.
- Que te aconteceu?
- Nada mais que a vida.
- Não te preocupes, Deus ajuda-te.
- Qual Deus?
- Aquele que tu inventas para te sentires protegida.
- Eu não invento.
- "Sou eu próprio uma pergunta colocada ao mundo e devo providenciar a minha resposta. Caso contrário estarei reduzido à resposta que o mundo me der" (
Carl G. Jung)- E a resposta que o mundo me der pode satisfazer-me. Caso contrário providenciarei para que a encontre no lugar único da existência autêntica: Eu mesma! De qualquer forma, entre o mundo e a minha existência não há incompatibilidade: assim eu possa encontrar o equilíbrio.

19.5.10

MOMENTO FACEBOOK (3)


- Hoje tive um dia mau.
- Porquê?
- Porque a chuva atirou-me as ideias pela sarjeta.
- Não leves as ideias para a rua.
- Tenho que as levar, elas não me largam quando vou comprar bananas.
- Vais fazer as bananas no forno?
- Não, saí para as comprar mas passei o tempo todo a agarrar as ideias na sarjeta. Quando cheguei à mercearia do Sr. Jacinto já estava fechada.
- E agora?
- Agora não como as bananas gratinadas mas escrevo um texto.
- Sobre quê?
- Sobre a impossibilidade de comer bananas no forno quando as ideias querem fugir.

18.5.10

MOMENTO FACEBOOK (2)


- Olá!
- Olá, estás feliz?
- Que é isso?
- Não sei, talvez uma espécie de momento.
- Um estar que querias que durasse toda a vida.
- Uma pequena transitoriedade.
- Bem me parecia que a diferença entre o ser e o estar era imensa.
- Imensa, cara amiga. Shakespeare usou o verbo To be: Ser ou Estar
- Nunca tinha pensado nisso.
- Então pensa, pensa nessa imensa diferença que faz com que a felicidade não seja mais que um estar pequeno e intermitente que nos empurra para um tempo fragmentado de prazer. Nada mais.

17.5.10

MOMENTO FACEBOOK (1)


- Olá.
- Olá, como estás hoje?
- Melhor. Cheguei do fim de semana e lembro o que me disseste há dias.
- Não disse. Escrevi.
- Pois. Escreveste: Se não sabe, porque pergunta?
- Carver.
- Eu sei. Mas não li. As perguntas são sempre úteis.
- Enganas-te. Não são. Se queres ser feliz, não faças perguntas.

14.5.10

BOM FIM DE SEMANA!



Vou para o lugar das flores, da lua, do vento e do contentamento.

LIVRO AMIGO


Paul Klee

Vou dedicar-me à cultura e pegar num livro que me faça esquecer tanto dislate.

13.5.10

UM CHINÊS

- Professora, na aula de História estivemos a falar de um homem muito importante que já morreu.
- Ah sim? De quem?
- Um chinês que era comunista e diziam que também era poeta.
- E quem era ele?
- Era o 971!

12.5.10

CIÊNCIA

- Uma das características da ciência é a objectividade.
- O que é isso?
- Eu sei, eu sei. É a ciência que estuda o objecto em actividade!

11.5.10

ARBITRÁRIO

- Professora, este esquema do livro é para ler da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda?
- Podem interpretar o esquema das duas maneiras. A ordem é arbitrária.
- O que é isso?
- Não sabem o que é arbitrário?
- Eu sei, eu sei. É aquela coisa que passa de pais para filhos!

10.5.10

VOCABULÁRIO

- O Professor, na outra aula, disse-nos que tínhamos deficiências.
- Ai disse? Que deficiências?
- De vocabulário. Acha bem?
- Acho perfeitamente legítimo, sim.
- O que significa legítimo?

5.5.10

JUNTOS


Quando muitos homens se juntam para olhar, é sinal que o objecto de contemplação tem importância superior ao próprio corpo.

4.5.10

SENTIDAMENTE

Era uma vez um homem que, de tanto olhar, perdeu a visão. Um dia, a audição falhou, quando tentou ouvir o que não conseguia ver. Depois o olfacto foi-se embora, quando quis cheirar o que não via nem ouvia. A certa altura o homem perdeu o paladar e, nesse dia deixou de comer e passou a tactear os alimentos. Depois veio o tédio porque só com o pensamento não conseguia encontrar o mundo.

3.5.10

TEXTO SIMPLES


(Foto de Gerard Castello Lopes)

Era uma vez um homem que não sabia colocar acentos. Decidiu não usar mais que palavras, para não complicar a vida ao texto.

2.5.10

AFECTOS

No dia da mãe fico sempre perto de quem me faz entender o sentido de todas as coisas.