Há algum tempo que me enrolei
numa rede social. Por causa de uma filha que queria, por causa dos amigos, por causa de mim, essencialmente por causa de mim, porque isto de
autossabotar o raciocínio é comum mas não é saudável. Pronto, fui eu que decidi
aderir ao facebook, e foi uma mudança que não se qualifica nem quantifica, foi
apenas uma mudança. Deixando fora julgamentos e contra pesos, o facebook é uma
ferramenta que pode ser mal ou bem usada. Dizem por aí que é perigoso e
viciante mas eu acredito que perigosos e viciantes somos nós. É como os
chocolates, não fazem mal nenhum, somos nós que os usamos mal quando decidimos
entupir-nos de calorias sem medida. As redes sociais são ferramentas para usar
com o mesmo discernimento com que se usam chocolates, bebidas alcoólicas e outros
prazeres que podem causar intoxicação quando o descontrolo acontece e é nossa a
responsabilidade.
Quem considera o facebook uma
coisa má, deve evitá-lo, porque usar e dizer que é mau não me parece coerente.
Penso-o como uma forma de partilha, uma forma de saber que músicas se ouvem,
que lugares se visitam, que peças de teatro são boas, que fadistas cantam em Alfama,
que praias têm bandeira azul e que filmes estão no King. É uma outra forma de amar à distância, a possibilidade de um mimo virtual que se
prolonga para o dia seguinte. Ali estamos próximos porque
trocamos interesses, e o entusiasmo da troca não precisa sempre do corpo. Para
os que escolhem ter "amigos" que não conhecem e mostram fotografias
da família, dizendo o que se come lá em casa, diria que o facebook é um diário
público. Nada contra, nem a favor, afinal cada um usa a faca que quer para cortar
o bife que escolheu comer.
Perigosos e viciantes somos nós
quando, ao invés de controlarmos comportamentos menos positivos, arranjamos
desculpas bem longe. Há algum tempo que me enrolei numa rede social, já a usei
de muitas formas diferentes e é essa riqueza de erros e acertos que me faz,
hoje, pensar naquele lugar como uma forma de entender e dar a entender as
coisas que se interpretam.
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