21.5.13

Perigosos e viciantes somos nós

Há algum tempo que me enrolei numa rede social. Por causa de uma filha que queria, por causa dos amigos, por causa de mim, essencialmente por causa de mim, porque isto de autossabotar o raciocínio é comum mas não é saudável. Pronto, fui eu que decidi aderir ao facebook, e foi uma mudança que não se qualifica nem quantifica, foi apenas uma mudança. Deixando fora julgamentos e contra pesos, o facebook é uma ferramenta que pode ser mal ou bem usada. Dizem por aí que é perigoso e viciante mas eu acredito que perigosos e viciantes somos nós. É como os chocolates, não fazem mal nenhum, somos nós que os usamos mal quando decidimos entupir-nos de calorias sem medida. As redes sociais são ferramentas para usar com o mesmo discernimento com que se usam chocolates, bebidas alcoólicas e outros prazeres que podem causar intoxicação quando o descontrolo acontece e é nossa a responsabilidade.


Quem considera o facebook uma coisa má, deve evitá-lo, porque usar e dizer que é mau não me parece coerente. Penso-o como uma forma de partilha, uma forma de saber que músicas se ouvem, que lugares se visitam, que peças de teatro são boas, que fadistas cantam em Alfama, que praias têm bandeira azul e que filmes estão no King. É uma outra forma de amar à distância, a possibilidade de um mimo virtual que se prolonga para o dia seguinte. Ali estamos próximos porque trocamos interesses, e o entusiasmo da troca não precisa sempre do corpo. Para os que escolhem ter "amigos" que não conhecem e mostram fotografias da família, dizendo o que se come lá em casa, diria que o facebook é um diário público. Nada contra, nem a favor, afinal cada um usa a faca que quer para cortar o bife que escolheu comer.  


Perigosos e viciantes somos nós quando, ao invés de controlarmos comportamentos menos positivos, arranjamos desculpas bem longe. Há algum tempo que me enrolei numa rede social, já a usei de muitas formas diferentes e é essa riqueza de erros e acertos que me faz, hoje, pensar naquele lugar como uma forma de entender e dar a entender as coisas que se interpretam.


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