(Frida Kahlo)
Tem por hábito viver sem artifícios. Ao corpo dedica algum tempo. Nunca se esquece dos brincos em casa. No colo, não coloca mais do que um fio preto. Não tem nos braços, doirados estridentes, não usa nos olhos, brilho de espécie alguma.
Irritantemente simples é expressão oferecida por uma amiga para definir o seu despojamento. Paciência para roupa escolhida em horas de loja não há. Tempo no cabeleireiro não desperdiça. Rejeita horas de deleite ocioso em centros comerciais. Restam-lhe os prazeres do feminino resguardado na intimidade do ginásio ou no gabinete onde escolhe a cor das unhas todas as semanas.
São poucas as decisões de critério complicado. Em dias ou noites excepcionais, é tempo de energia em movimento, de cores nos olhos e de batom a condizer. Nas horas comuns da existência ela é, de facto, irritantemente simples.
É irritante a simplicidade quando esbarra na rasteira vulgaridade de um corpo sem alma ou desta sem conteúdo. Pode ser árido o dia e escura a noite quando o vestido e os sapatos não combinam, quando a carteira gasta pelos instantes parece ter sido usada por uma tia longínqua, quando as palavras não jogam dentro de uma qualquer frase dita em esplanada de bairro.
Não prova, através de um corpo muito enfeitado, o conforto dos membros descomprometidos, o contentamento de um cabelo sem tinta e a alegria dos ténis em noite de calor.
Nos momentos que vive sem tinta, desfruta o maior prazer porque são instantes vividos de forma irritantemente simples.
1 comentário:
Falou-se de conteúdos de um modo irritantemente fugaz; este texto é simplesmente fútil.
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