Vinha a
D. Aurora com grandes óculos de armações castanhas, espreitava por cima das
lentes e gritava aos miúdos que jogavam à bola na rua. Ninguém a ouvia, e ela
própria punha em dúvida a sua existência. A D. Aurora nunca percebeu se o mundo
era como ela o via com óculos ou como ela não o via, sem óculos.
Um dia a
D. Aurora percebeu que talvez o problema estivesse na sua incapacidade para
perceber. Com ou sem óculos, o mundo estaria à sua disposição, mas ela
virava-lhe as costas.