Joaquín Torres Garcia |
Enquanto fazia o percurso, a minha cabeça era um
saco cheio. Tentei pôr as ideias em ordem sem travar o raciocínio, quis perceber
o fenómeno que vivia mas a dificuldade aumentava. Tentei relembrar todos os
passos desde que o despertador tocou: desliguei-o; sentei-me na cama; calcei os
chinelos; abri a janela e era noite, isso, era noite e o relógio marcava sete
horas da manhã. Apenas alguns estabelecimentos tinham luz, algumas ruas
mantinham candeeiros acesos, alguns semáforos funcionavam. A distracção fez-me
parar quase em cima da traseira do carro da frente. - Está a olhar para onde oh
parvalhona? - Ouvi gritar pelo vidro - Não liguei. O caminho para a escola foi
feito entre as poucas luzes que os geradores mantinham acesas e alguns
semáforos intermitentes que, com cautela, tive que atravessar.
Ao portão estava o Sr. Vítor, sempre atento aos
professores e aos alunos:
- Bom dia, Dra.
- Bom dia, Sr. Vítor, sabe dizer-me o que se passa
hoje? Estou assustada.
- Porquê Dra. Teresa?
- Por nada, Sr. Vítor, por nada.
Entrei no edifício quase às escuras. Senti as
vozes dos colegas na sala de professores e o barulho dos alunos que entravam
nas salas de aula. A boca estava seca. Fui ao bar pedir um copo de água à D. Rosa,
atendeu-me com uma vela acesa no balcão e com a naturalidade do costume. Abri a
boca de espanto e ela riu.