26.3.13

Saco cheio

Joaquín Torres Garcia



















Enquanto fazia o percurso, a minha cabeça era um saco cheio. Tentei pôr as ideias em ordem sem travar o raciocínio, quis perceber o fenómeno que vivia mas a dificuldade aumentava. Tentei relembrar todos os passos desde que o despertador tocou: desliguei-o; sentei-me na cama; calcei os chinelos; abri a janela e era noite, isso, era noite e o relógio marcava sete horas da manhã. Apenas alguns estabelecimentos tinham luz, algumas ruas mantinham candeeiros acesos, alguns semáforos funcionavam. A distracção fez-me parar quase em cima da traseira do carro da frente. - Está a olhar para onde oh parvalhona? - Ouvi gritar pelo vidro - Não liguei. O caminho para a escola foi feito entre as poucas luzes que os geradores mantinham acesas e alguns semáforos intermitentes que, com cautela, tive que atravessar.
Ao portão estava o Sr. Vítor, sempre atento aos professores e aos alunos:
- Bom dia, Dra.
- Bom dia, Sr. Vítor, sabe dizer-me o que se passa hoje? Estou assustada.
- Porquê Dra. Teresa?
- Por nada, Sr. Vítor, por nada.
Entrei no edifício quase às escuras. Senti as vozes dos colegas na sala de professores e o barulho dos alunos que entravam nas salas de aula. A boca estava seca. Fui ao bar pedir um copo de água à D. Rosa, atendeu-me com uma vela acesa no balcão e com a naturalidade do costume. Abri a boca de espanto e ela riu.