17.6.13

Desejos perversos do invejoso

A inveja pode ser definida como uma vontade frustrada de possuir os atributos ou as qualidades de um outro ser. Aquele que deseja tais virtudes é incapaz de as alcançar, seja pela incompetência ou por qualquer tipo de limitação. 

A inveja corrói o invejoso, transforma-o numa espécie de perseguidor. O invejoso tem sempre a certeza de que o não é e vive na perseguição de um ser que não consegue imitar, tal sentimento é destruidor de relações e impede a construção e a criatividade. O invejoso é um ser deficiente, emocionalmente instável e profundamente infeliz. A sua infelicidade, ao invés de lhe proporcionar a capacidade de se transformar, condu-lo a uma espécie de obsessão, o objetivo é que o outro não faça, não progrida, não tenha sucesso e erre muito. 

Há um prazer pornográfico e sujo quando vê o outro cair, a certeza da competência alheia faz-lhe comichão debaixo dos braços e tira-lhe o sono. Quando se trata de alguém que, a troco de nada e só porque sim, consegue construir e ser maior, o invejoso não dorme, inventa tudo o que pode para por no chão quem brilha e se destaca. É por ser infeliz e incapaz que a inveja aparece, cresce como uma planta e é alimentada pela raiva de si mesmo. 


Há quem passe o tempo a olhar para os melhores, a pedir que não o sejam, a trabalhar para lhes dificultar a vida. Há quem, de tão infeliz e frustrado, não consiga ficar contente com nada de bom que os outros façam. A inveja é uma doença contagiosa, basta que passe de pais para filhos, às refeições e nas conversas em família, cuidado, pega-se porque se transmite por palavras e atos. 

O invejoso é um ser perigoso, mas tem remissão: se conseguir ser feliz e perceber que é bom ver os outros felizes, perceberá que a vida ganha cor. O invejoso vive a preto e branco e todas as cores o perturbam, como não consegue pintar o seu mundo, acha que o dos outros também tem de ser escuro. Na sua cabeça está a luta pela mediocridade generalizada, não quer ficar sozinho e, por isso, faz descer quem sobe e chorar quem ri, não vá o mundo alheio ficar acima do seu chão porco e pouco polido. O desejo supremo de um invejoso é inconfessável, secreto, só ele o conhece e por ele vive.


Os perversos desejos do invejoso acabarão, no dia em que descobrir que pode ultrapassar a frustração que o consome e a infelicidade que o corrói.  

7.6.13

Contágios que se impõem

Quando tiveres à tua volta pessoas empenhadas em inventar desgraças que não existem e imaginar tragédias que ainda não aconteceram, pensa bem, não nas palavras que ouves mas naquilo que tu próprio sentes. Em último caso foge para longe e interroga-te: Qual a razão por que se lamentam? O que me aflige é o mal real, não o mal de opinião fundamentado em receios que se inventam. E quanto aos contágios que se impõem, lamento mas não estou cá.

Coisas que me inquietam (41)


Crianças são humanidades pequenas que precisam de ajuda para se tornarem grandes e boas. Crianças são responsabilidade de pessoas grandes, as que só deviam poder tê-las se passassem por um controlo rigoroso de qualidade.