31.3.09

AMOR DE PLÁSTICO

Parece que um casal de namorados ou, neste momento, ex-namorados, não se entende na divisão do euro-milhões ganho há dois anos. Ela quer mais de metade da quantia porque preencheu a chave, ele contenta-se com a divisão equitativa de quinze milhões de euros, apesar de ter pago a maior parte da aposta.

Este casal que partilhou o amor, o quotidiano e os fluidos corporais, não percebe que a divisão da quantia é muito mais fácil de resolver do que as partilhas anteriores. Como a estupidez não tem limites, convencem-se que, em tribunal, se podem tratar assuntos do foro psicológico. Eu defendo uma terapia comparticipada pelo estado neste tipo de casos. Afinal é preciso solidariedade para com os insanos.

DORIDA


Jorge Martins

Fiquei muito tempo sem tempo. Doem-me as pernas e os braços.

30.3.09

PERMANÊNCIA


Jorge Martins

Tentar parar o tempo com atitude. O corpo ajuda muito. A alma dificulta o acesso à permanência.

27.3.09

PARAR O TEMPO


Jorge Martins

Vou-me embora. Parar o tempo e perceber que, dias como os que aí vêm, não são comuns.

25.3.09

FRINCHA


Jorge Martins

Espreita-se pela frincha para fingir que se vê. Não há alternativa para olhos semi-cerrados. São olhos mortos.

24.3.09

JANELAS FECHADAS


Jorge Martins

Não são as janelas fechadas que impedem a visão. São as pessoas que não querem olhar para as coisas. As primeiras podem abrir-se, as segundas não. Porque olhar interfere com ser e disso fogem os que fecham os olhos.

23.3.09

COISAS QUE ME INQUIETAM (12)


Em final de tarde, reunida com vinte colegas de trabalho, oiço: a avaliação de professores deveria passar pela verificação do conhecimento de leis e pela análise exaustiva das mesmas.
Há gente muito pequena. Mais um passo e estou a ouvir: a avaliação de professores deveria passar pela verificação do conhecimento da anatomia humana e pela análise exaustiva da forma como cada docente procede face à postura não erecta do aluno em sala de aula.Há gente que não tem vida. Um passo mais à frente e ouvirei: a avaliação de professores deveria passar pela verificação das condições sócio-económicas dos estudantes de forma a proceder a uma avaliação igualitária que não produza discriminação.Não são as ideias que perturbam, perturba perceber que há pessoas que deviam mudar de profissão já.

22.3.09

REVOLUCIONARY ROAD

Angústia, insatisfação, medo, aflição e desejo, escondidos sob a capa de uma normalidade podre. A morte, em vida ou depois dela, é a única saída.

21.3.09

GRAN TORINO

O problema dos filmes de Clint Eastwood é que nos tiram o sono.

29 - JORGE MARTINS




Jorge Martins nasce em Lisboa, no dia 4 de Fevereiro de 1940. Entre 1957 e 1961, frequenta os cursos de Arquitectura e Pintura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.Em 1958, inicia-se na técnica de gravura, na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses - Gravura, a convite do pintor Júlio Pomar. Nesse mesmo ano, estabelece-se num atelier e inicia a sua carreira como artista plástico. Vê o seu trabalho exposto em Lisboa, Nova Iorque, Chicago, Paris, Bruxelas, entre outras cidades. O seu interesse pela literatura leva-o a ilustrar várias obras, como O Ciclópico Acto de Luiza Neto Jorge, Mensagem de Fernando Pessoa ou O Livro das Sete Cores de Maria Alberta Meneres e António Torrado, pelo qual recebe o Prémio Gulbenkian de Ilustração de Literatura Infantil.
Em 1985, participa na representação portuguesa da 18ª Bienal de São Paulo. Em 1986, recebe o Prémio de Desenho da IIIª Exposição de Artes Plásticas da Fundação Gulbenkian. Em 1995, é inaugurado, na estação de metro Archives/navy Memorial de Washington, o alto-relevo Ocean Piece da sua autoria.
Tão Só O Fim do Mundo foi a sua primeira experiência no teatro.

Ennio Morricone - Cinema Paradiso

20.3.09

AO RITMO DO DJEMBÊ


Walter Vale, professor de economia na Universidade de Connecticut, perdeu a paixão pelo ensino. A vida é preenchida por rotinas. O vazio da existência caminha para as teclas de um piano que já não se ama. As aulas preenchem objectivos que desapareceram. Uma deslocação a Nova York leva Walter ao reconhecimento de que a vida pode passar a fronteira do hábito. Dois jovens ilegais que ocupam, por engano, o seu apartamento, fazem com que Walter perceba, por detrás de um sorriso que não se revela, a importância dos dias com ritmo. Tarek, músico dotado (para além dos dotes com que a natureza o presenteou), ensina a Walter os segredos do djembê.
Aos poucos, Walter recupera a alegria da qual que se tinha esquecido. Amigos e cúmplices, os dois homens percorrem o metro e os bairros de Nova York com o objectivo de viver ao ritmo da exaltação.
Noite fria. Avenida de Roma. Do cinema King à praça de táxis, dois amigos circulam em passos fumados de riso e luxúria:
- Walter percebeu que se pode morrer antes do cérebro e o coração pararem.
- Coisas que todos temos obrigação de entender.
- A morte é sempre entendida como física.
- Não fossem desatentas as gentes, perceberiam que morrem todos os dias, sem o som do djembê e sem as teclas do piano.
O vento cortante de uma cidade silenciosa, longe do poder cosmopolita de Nova York e do cheiro das bijutarias vendidas em Washington Square. A noite sem lua:
- Gostaste do desempenho dele?
- A falta de sorriso, a incapacidade de um corpo que morre e deixa a alma ir junto. Gostei da forma como o disse, em todos os gestos e frases.
- O piano era o encontro possível com a mulher.
- Era. Embora Walter tivesse tomado consciência que, encontros depois da morte, podem desenrolar memórias pouco bonitas.
O vento parou na cidade silenciosa, ao mesmo tempo que o táxi encostou na berma para que entrassem:
- Por favor, leve-nos ao Café Malaca.
- Onde fica?
- No clube naval do Cais do Sodré, uma casinha velha que espreita o rio com vergonha.
- Estão com pressa?
- Não. Acabámos de perceber a importância das noites que não se apressam.

19.3.09

ANIMAÇÃO PREMIADA

En Tus Brazos

DOR


Goya

A dor é um sinal inequívoco de que alguma coisa está errada. Dependendo da força de espírito da vítima, a dor poderá provocar um bom ou um mau resultado.

18.3.09

FORÇAS


Goya

No mundo dos humanos, crescemos acreditando que podemos alterar o nosso destino. As nossas esperanças viajam em função disso. Conclui-se, do contínuo movimento dos oceanos e do voo dos cometas que, forças completamente alheias aos nossos desejos, existem.

17.3.09

ESTRADAS LAMACENTAS


Goya


Teríamos muito poucos amigos se aceitássemos todas as frustrações. Os romanos eram perfeitos na recusa de frustrações, detestavam o frio e desenvolveram um aquecimento instalado debaixo do soalho. Não queriam caminhar em estradas lamacentas e por isso pavimentaram-nas.
Para Séneca, a sabedoria assenta em sermos capazes de discernir correctamente quando é que somos livres de moldar a realidade de acordo com os nossos desejos e quando é que devemos aceitar o inalterável com tranquilidade.

16.3.09

RUÍDO


Goya

Em ruas ruidosas, devemos acalmar-nos e convencermo-nos que todos os que fazem barulho, nada sabem a nosso respeito. O ruído nunca será agradável mas não é por isso que nos vamos enfurecer. O que se passa no exterior não pode perturbar-nos.

14.3.09

SER DEMONÍACO


Goya

Schopenhauer considerou que, este mundo, não podia ser obra de um Ser que nos amasse, mas em vez disso de um ser demoníaco que dera existência às criaturas para se deliciar com a visão dos seus sofrimentos.

13.3.09

COITADINHOS DOS MENINOS


É notória a comiseração oferecida aos meninos que vagueiam entre a família e a escola sem que o rumo para a vida surja como objectivo primeiro. Os meninos, coitadinhos, crescem no seio familiar com a sensação quotidiana de que a excessiva protecção e a permanente oferta de bens materiais de quinta necessidade é, sempre, prioridade dos que os acompanham ao longe.
Os meninos, coitadinhos, não estão habituados a lutar por coisa nenhuma. Não sabem realizar tarefas sem ajuda, não sabem organizar a mochila nem os cadernos, não sabem gerir o horário escolar semanal, não sabem estudar mais do que 5 minutos seguidos, não sabem sentar-se direitos. Coitadinhos dos meninos, não têm culpa. Os pais estão fora o dia inteiro, não podem oferecer-lhes tempo nem paciência. Os que escolheram a carreira antes dos filhos, oferecem-lhes tudo o que lhes permite pensar que o mundo é uma construção tipo lego. Depois, na escola, os meninos, coitadinhos, arregalam os olhos ao professor que lhes exige trabalho e esforço, indignam-se face à exigência que não conhecem, espantam-se perante a “intransigência” de um atraso, reclamam por não poderem infringir regras básicas de comportamento, gritam com quem não permite o uso de telemóvel em locais de trabalho, esperneiam quando repreendidas posturas, consideram inimigo quem lhes diz não.
Os meninos, coitadinhos, não sabem ouvir um não, não têm culpa, nunca o ouviram antes. Percebem, muito tarde, que há pessoas que dizem não e que, mais grave, não voltam atrás na resposta depois de birra afincada. Os meninos, coitadinhos, são vítimas de um sistema incoerente e perverso. No início, quando a infância exige disciplina, não a têm, não aprendem nada sobre regras. A escola chega depois para confundir, contradizer aquilo que antes aprenderam. Não é justo que um monte de desconhecidos os obriguem a ser e estar como nunca lhes tinham ensinado. A incoerência dita, na cabeça dos meninos, alguma revolta, o vazio de referências, a confusão de registos a que não sabem apegar-se.
Antes, na casa aquecida onde a empregada ditava os sabores das refeições escolhidas por capricho, os meninos podiam mandar. Agora, na escola fria onde funcionários e professores ditam leis, os meninos têm que obedecer. É confuso, percebe-se que os meninos, coitadinhos, precisem de apoio psicológico, terapias dirigidas, acompanhamento escolar extraordinário.
Percebe-se que, depois da ausência de tudo, esbarrar num monte de presenças incómodas, possa desencadear, a uma vida desprovida, graves problemas de inadaptação. São meninos, coitadinhos, mereciam o tempo e o conteúdo dos que escolheram ter filhos. Não tiveram nada e agora, os que escolheram ensinar, pagam a factura da comiseração indecente que, aos coitadinhos, é oferecida todos os dias.

12.3.09

PROSA SIMPLES


Goya

Um estilo de escrita incompreensível pode, eventualmente, resultar mais da preguiça do que da inteligência. Às vezes, prosa difícil, disfarça ausência de conteúdo. Ser incompreensível oferece uma enorme protecção contra o facto de não ter nada para dizer. Escrever com simplicidade requer coragem, porque existe o perigo de que não nos prestem atenção, de que sejamos colocados de parte por sermos simples de espírito por aqueles que acreditam que, a prosa impossível de compreender, é o grande marco da inteligência. Montaigne perguntava-se se a maioria dos académicos teriam apreciado Sócrates se o tivessem conhecido pessoalmente, desprovido de complexidade e prestígio, vestido com a sua capa cheia de nódoas e falando uma linguagem vulgar.

11.3.09

10.3.09

CASA DE LOUCOS


Goya

Pode ser problemático ter, simultaneamente, um corpo e um espírito. O primeiro apresenta-se como contraste ao segundo. Os corpos sentem dor, fraqueza, pulsam e envelhecem. Os nossos corpos arrotam, suam, libertam odores intensos. Os nossos corpos mantêm os espiritos como reféns dos seus caprichos. Toda a nossa perspectiva de vida pode ser alterada pela digetão de um pesado almoço.

Dizia Montaigne: "Quando uma boa saúde e um lindo dia de sol me sorriem, sinto-me perfeitamente jovial; se tiver uma unha encravada sinto-me susceptível, mal disposto e intratável".

9.3.09

DISTÂNCIA


“Enquanto nevava a favor de um vento forte guiado pelo Danúbio, junto ao lago conheceu Orsolya, por mero acaso ou porque ela assim quis, mais de ingénua do que curiosa.”

László, não tinha esquecido Luísa. Sabia-a longe, perto do Tejo que via à distância. Perguntava-se, todos os dias, se a voltaria a ver. Sabia que, de repente, era possível o reencontro em Lisboa.

8.3.09

28 - FRANCISCO DE GOYA



Goya iniciou a sua aprendizagem como pintor em 1759, aos treze anos, com Don José Luzan y Martinez. Como era costume na época, começou por fazer cópias de pinturas de vários mestres. Aos dezassete anos foi para Madrid, onde tentou, por duas vezes, entrar para a Academia de Belas Artes, sendo rejeitado em ambas as tentativas. Os biógrafos atribuem a Goya todo o tipo de aventuras nos anos que se seguiram, como a de ter-se tornado toureiro em Roma e ter-se envolvido em inúmeras aventuras amorosas.
No final de 1771, inscreveu-se no concurso da Academia de Belas Artes de Parma, recebendo uma menção honrosa e a sua primeira encomenda: o fresco na Igreja Nossa Senhora do Pilar, em Saragoça. A partir de então, seguiram-se encomendas para o Palácio de Sobradiel e o Monastério Aula Dei. Entre os anos de 1773 e 1774 foram executadas, provavelmente, as últimas pinturas desse período em que esteve em Saragoça.

Goya casou com Josefa Bayeu, irmã dos artistas Francisco e Ramon Bayeu. Enquanto esteve em Madrid, trabalhou para várias fábricas, fazendo desenhos para tapeçarias. São desse período os desenhos que ganharam fama, com reprodução de cenas folclóricas e de paisagens. Contudo, ele não era um artista interessado em paisagens e o fundo de suas obras mostra o pouco interesse que tinha por elas.
Depois de estabelecido em Madrid, começou a pintar retratos. O mais antigo que se conhece data de 1774.
No ano de
1780, entrou para a Academia de San Fernando e apresentou a obra "La Crucificada". Nessa pintura, Goya seguiu as regras académicas, provando que era um mestre do estilo convencional. Em 1785, começou a receber encomendas da aristocracia. Foi nomeado "Primeiro Pintor da Câmara do Rei", tornando-se o pintor oficial do monarca e da sua família.

Em 1792, numa viagem a Andaluzia, contraiu uma doença séria e desconhecida, ficando temporariamente paralítico, parcialmente cego e totalmente surdo. A alegria desapareceu lentamente das suas pinturas, as cores tornaram-se mais escuras e o seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo. Parcialmente recuperado, regressou a Madrid no verão de 1793 e continuou a trabalhar como artista da Corte. Buscou então outras inspirações para expressar a sua fantasia e invenção sem limites.Entre 1810 e 1814, produziu a famosa série de pinturas "Los Desastres de la Guerra"; "El Segundo de Mayo 1808" e "El Tercero de Mayo 1808". Nestas obras demonstrou um uso de cores extremamente poderoso e expressivo. Pela primeira vez, a guerra foi descrita como fútil e sem glória, e pela primeira vez não havia heróis, somente assassinos e mortos.
Em 1821, a Inquisição abriu um processo contra Goya por considerar obscenas as suas "Majas", mas o pintor conseguiu livrar-se, sendo-lhe restituída a função de "Primeiro Pintor da Câmara".

Durante a última parte da sua vida, Goya cobriu as paredes da sua Quinta del Sordo com as famosas "pinturas negras", as últimas e mais misteriosas de seu génio atormentado, como "Saturno devorando a un hijo" que se encontra, actualmente ,no Museu do Prado. Esta pintura constitui uma referência aos conflitos internos de Espanha, durante o reinado absolutista de Fernando VII, mas será também um reflexo da degradação da sua saúde física e mental.
Em
1824, Goya exilou-se em Bordeaux, vindo a morrer quatro anos depois.

ENSINAR


Homer


Parar de ensinar é, também, parar de aprender.

7.3.09

PARAR PARA OLHAR


Homer

Na terra onde nasci, havia uma casa abandonada. Eu era muito pequena para perceber que, ali, tinha vivido gente. Um dia, depois da ingenuidade, dei comigo a imaginar a vida desaparecida nas paredes em ruínas. Percebi que há lugares onde é preciso parar para olhar.

5.3.09

O LEITE CONDENSADO DAS OPINIÕES


Homer

Eu não tenho opiniões. Eu não quero ter opiniões. Eu quero ter corpo e mãos e pés e braços e pernas e entendimento. As opiniões impedem-me de ter corpo e mãos e braços e pernas e entendimento. As noites põem a música mais nítida e as opiniões impedem o corpo de agir, as mãos de fazer, as pernas de andar, o entendimento de criar.
Que se eleve a forma ao momento da transcendência do corpo, muito longe das nojentas frases opinativas. Operam em mim sensação de arrepio, as opiniões que não dizem mais que nada. Escrever opiniões é dizer coisa nenhuma. Quem se interessa pelo que eu julgo? Quem quer ler as minhas opiniões? Quem se debruça para papéis incertos?
Eu quero o corpo e os braços e as pernas e os olhos que vêem, eu não quero peganhentas opiniões.
Há vida no entendimento da criação, a que o sofrimento ou o prazer arrancam à alma. Há vida nas coisas criadas depois dos gritos e dos arrepios, quando a elevação acontece. As opiniões não surgem de gritos nem de arrepios, nem de frio nem de calor, aparecem do vazio sem corpo e sem prazer. As ideias são outra coisa, são o berro de um espírito ocupado com prazer e dor, com corrida e desmaio, com quente e frio.
Que fiquem longe juízos opinativos que uso para preencher folhas em branco, para usar de falsa atenção e inteligência construída sem critério. Que se guardem opiniões para os dias de semana que são domingos, longos e chatos, cheios de corridas sem regresso e passeios sem olhares. Que fiquem, os sons, longe de mim, para os poder ouvir com maior intensidade.
Eu não quero ter opiniões, mas tenho-as. Perseguem-me, viscosas como a baba de camelo que tem sabor a leite condensado. Odeio leite condensado. Odeio as minhas opiniões, andam atrás de mim sem que as consiga colocar em frente dos pés, como uma bola que se chuta para longe. Assiste-se ao seu caminho para trás das árvores, esconde-se mas não desaparece…como as minhas opiniões.

4.3.09

NOJO


Espremo a saia como espremo tudo o que me enjoa. Carros que andam depressa, motas que curvam bocados de estrada escorregadia, guinchos de crianças mal dispostas, pessoas com dentes mal tratados. Espremo a saia como espremo tudo o que me enoja. Preços fora de prazo, dinheiro escondido debaixo de pastas, risos disfarçados, beijos a fingir. Espremo a saia com força e não consigo que tudo o que me enjoa ou me enoja desapareça.

3.3.09

MÃOS FORA


Homer

Tocar no mundo com a cabeça leva-te aos sentimentos paralelos de um universo pouco importante. Há uma intensidade a que as mãos nos habituam, são elas que nos tornam intensos.
"Com as mãos nos bolsos o homem percebe que não é Deus. Não chega às coisas. Com as mãos nos bolsos sente-se mais, pensa-se menos". (Gonçalo M. Tavares)

2.3.09

PALAVRAS QUE ADORMECEM


Homer

Ver adormecer as palavras no branco e áspero papel:
toda a gente entende que, à noite, a música é mais nítida.
As mãos são orgãos susceptíveis de se emocionarem e ... ouvir mantem-me distante das coisas.

1.3.09

DOMINGOS

Há dois tipos de domingos: os que servem para tudo e os que servem para coisa nenhuma.

SABARBIAN


Homer

A noite no fim de Lisboa foi verde. Gentes postas em elegante mesa. Pato escondido em arroz branco e muito riso. Ciência, Filosofia e Arte em partes certas. A curvatura de uma onda à passagem por um obstáculo, foi tema de conversa entre letras e ciências. Em maior ou menor grau, dependendo das dimensões do obstáculo, ocorre a curvatura da onda. Como nas pessoas: em maior ou menor grau, conforme capacidade de entendimento, ocorrem juízos ou certezas. À noite, no fim de uma Lisboa verde, as certezas gritaram mais alto, em uníssono comprimento de onda.

27 - WINSLOW HOMER



Nascido em Boston, Massachusetts, um dos mais expressivos representantes do realismo norte-americano em fins do século XIX. Viveu a sua infância numa área rural de Cambridge, após a falência dos negócios do pai. Não recebeu educação formal e, influenciado pelos dons artísticos da mãe, iniciou sua carreira na arte aos 19 anos como aprendiz de litógrafo. Mudou-se para Nova York , onde estudou pintura na National Gallery of Design.
Durante a guerra de secessão, dedicou-se à temática militar. Viajou para França onde conheceu novas estéticas que não chegaram a influenciar a sua obra.
De volta a América, montou um estúdio em New York City e começou a pintar aguarelas. Com o passar dos anos, mudou para telas caracterizadas por figuras solitárias, com acentuado detalhe e efeitos atmosféricos.
Voltou à Europa, passando dois anos no Reino Unido e, de volta aos Estados Unidos, o mar passou a ser o tema predominante na sua obra.
Nos seus últimos quadros demonstrou um crescente interesse pelo abstracto.