Tinha os olhos postos na plateia que o aguardava para conversa que não se ensaiou. Eram poucas as pessoas que, reunidas na sala da escola, esperavam as palavras e os gestos de quem soube viver todos os dias na loucura da dádiva e do espanto. Sentou-se. Reparou nos olhos que o fixavam e sorriu. A conversa decorreu num encontro intimista.
Em palco imaginado, a cadeira do actor serviu-lhe de suporte, como se o corpo estivesse pronto para momentos que não eram espectáculo. As palavras são lindas, disse, é preciso darmos atenção à forma como as usamos, ao seu significado na frase e na vida.
O silêncio foi escolhido por quem precisava de ouvir, sem distracções. O actor falou do teatro, da entrega, do amor, da disciplina, do rigor e do crescimento de quem se dedica a um trabalho diferente. Personagens que se vivem, luzes que se acendem, panos que caem e textos na memória. É preciso falar alto, claro e não deixar cair os finais, repetiu aos aprendizes que continuavam no silêncio da expectativa e do entusiasmo.
A pouco e pouco, as vozes de quem o olhava, foram tendo eco nas perguntas, nas inquietações de gente nova capaz de abraçar profissão futura com as dúvidas próprias de quem viveu pouco tempo. O actor respondeu, com o mesmo amor com que sorriu a todos quantos o interpelaram. Alunos inquietos colocaram palavras certas em questões com sentido: a família, a profissão, o texto, as pessoas que não somos nós, o carácter, os limites, a loucura e a exposição, toda a exposição que, de um corpo, surge na voz: alta, clara e sem deixar cair os finais.
Foi um bocado de tarde diferente. No lugar do conhecimento, momentos de sabedoria. Todos entenderam a verdade nas palavras bonitas, distribuídas uma a uma, por quem esteve e sentiu o prazer de uma conversa recheada. Obrigada, Raul.
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