13.4.10

SUBIR DE PÁRA-QUEDAS



Ontem encontrei uma velha amiga na aula de step. Contou-me que estava apaixonada por um pára-quedista. Ouvi-a com muita atenção e não tive paciência para lhe dar respostas.

A Teresa sempre foi extravagante, até nos namorados. Quando pensou em casar-se com o Paulo, convidou-me para levar as alianças. Dizia que era original ser uma amiga a transportar o objecto. Aceitei porque sabia que ela nunca casaria com o Paulo. Como quando me pediu que a levasse ao aeroporto a meio da noite para esperar a equipa do Benfica que tinha ganho não sei o quê. Maluca. Disse-lhe que sim porque sabia que não saltaria da cama a meio da noite para coisa nenhuma, muito menos para ir ver jogadores cansados dos pés.

A Teresa tem ideias, muitas ideias que não concretiza. Imagina que tudo se desenrola sem a sua presença e depois inventa que tem de estar lá, nos momentos em que o mundo acontece.

O problema da Teresa é esse: concretizar. Arranja muitos namorados e quer ir esperar jogadores. Um dia descobre que a vida não se inventa e tem mais um desgosto, a somar aos que encontra no virar da esquina que dobra a correr.

A Teresa anda sempre a correr porque pensa que é assim que as pessoas vivem felizes. Corre atrás dos sonhos que inventa e, qualquer dia, é vê-la a subir de pára-quedas, em vez de descer, como as pessoas normais. Não me admirava.

2 comentários:

Fields disse...

Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta cousa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho que a vida é nada.

Fernando Pessoa

Anónimo disse...

Há quem viva num sono permanentemente agitado e em estado de euforia.
Será que algum dia vai querer viver acordado?

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