2.9.09

AO LADO DO BALNEÁRIO


Helen Frankenthaler

Encostou a cabeça e fechou os olhos. O jacuzzi estava vazio. Relaxou todos os músculos e manteve os olhos bem dentro de si. Não se ouvia mais que água, bolhas que lhe iam percorrendo o corpo. Continuou quieta com as costas em frente ao jacto mais forte. Parou o gesto. Lembrou as senhoras e os senhores que se reuniam no meio dos cacifos do balneário, os que tinham toalha branca enrolada ao corpo e falavam muito. Lembrou-se das conversas sobre textos e livros e deixou-se ficar, a mastigar todas as sílabas que não eram suas.

O apetite das recordações era sempre o maior apetite. Das senhoras recordava o riso, a elegância no trato, a inteligência. Dos senhores, mantinha viva a memória do charme, o raciocínio pronto e a ironia. Queria, um dia, juntar-se à mesa do balneário misto, intrometer-se, ouvir e falar, dizer e escrever. Iria propor às senhoras temas sobre o feminino da existência, a eles declararia guerra, postura assertiva nas palavras com testosterona. Iria dizer a todos que os lia, que queria continuar a lê-los.

Abriu os olhos por entre as bolhas grossas de água que se espalhavam na gigante banheira. O Jacuzzi já não estava vazio, todos os que antes eram memória tinham entrado no mesmo lugar de onde, agora, ela saia envergonhada.

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