(Manuela Pinheiro)
Pousou a mala atrás de uma porta pequena que dava acesso à casa de banho do quarto. Parecia já ter estado ali. Deitou-se em cima da cama e fechou os olhos, depois de olhar o tecto muito branco. Pousou os pés no chão e imaginou os dias que lhe faltavam para o regresso. Percorreu um a um, não encontrou mais que horas vazias. Depois de abrir os olhos, o espelho grande pendurado em cima da escrivaninha, reflectiu a imagem que não queria ver. Virou-o ao contrário. Agora sou ninguém, pensou. Por dias me encontrarei com o mundo que não conheço. Bateram à porta. A menina queria apenas confirmar se estava tudo em ordem. Entrou e, num gesto delicado, colocou a travessa de fruta em cima da mesa. A frase de boas vindas foi-lhe oferecida com um sorriso e, de novo, o silêncio se instalou no quarto 322.
Depois do banho, os pés e as mãos receberam o creme necessário para a paragem que há tanto aguardavam. Nus, os pés percorreram corredores alcatifados até à piscina. Não desviou o olhar. Era em frente o caminho. Pousou o saco ao lado da cadeira branca e descansou. Não se ouvia coisa nenhuma, como se o silêncio pronunciasse as palavras de uma paragem bonita. Voltou a fechar os olhos com firmeza.
- Bom dia, queira desculpar, daqui a trinta minutos há uma pequena visita ao museu das ideias. Está interessada na viagem?
- Ouvi falar desse lugar há muito tempo, quando, na faculdade, pensava ser possível a materialização de alguma coisa que não se visse. Não gosto de viagens marcadas.
- As pessoas costumam gostar, posso marcar lugar para si?
Pensou três segundos, abriu os olhos para ver quem lhe falava. Era um senhor de casaco branco assertoado. Tinha um ar altivo e olhava-a com deferência.
-Disse-lhe que não gosto de visitas com guia nem de tempo marcado para o prazer. Abro uma excepção a esse lugar. Posso ir descalça?
- Pode, claro.
- Obrigada. Estarei na recepção daqui a trinta minutos...
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