(E. Hopper)
As gentes andam desencantadas. Com o país em regressão económica e social, o lugar é curto para afectos, escondem-se, dissimulam-se, são substituídos por queixume, maleita, choradinho e desânimo.
É preciso romance, enamoramento, entrega aos prazeres que ainda nos concedem, aos que temos dever de procurar todos os dias, entre o trabalho e o sono.As gentes andam tristes, os amigos atarefados, os pais ocupados, os filhos cansados, os professores desprotegidos, os advogados pensativos e os juízes aglomeram processos em tribunais sobrecarregados de burocrata burocracia.
As gentes andam com o passo da incerteza e da desgraça, anunciada a cada dia que ligam a televisão. Fala-se de crise ao almoço e ao jantar, de falta de dinheiro, de falta de força e alegria para rir alto.
Não há romance, o corpo pede cama sem sexo e sumo de lima sem cachaça. A alma anestesia-se com as novelas da TVI e as novidades pretas que enchem espíritos menos optimistas. Não há energia para amar com a força da onda e da música. Começam, as gentes, a não entender por que razão recorrem às consultas de psiquiatria, por que motivo estão sozinhas, por que raio têm de contar o dinheiro para pagar as contas, deixar de andar de carro, adiar férias no estrangeiro, deixar de comprar um par de sapatos porque sim.Antes do perigo anunciado pela tristeza quase imposta, é urgente o romance, a nudez, o gemido, o grito, o suor, as palavras, a entrega e o contentamento.
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