30.12.08

UM ANO NA DOBRA DO GRITO


Nasceu, há um ano, um blog pensado em uma noite.
Pollock iniciou o percurso da imagem. As palavras surgiram com os quadros. É preciso repensar o sentido de tudo isto. O tempo proporcionará novas ou as mesmas opções estéticas.

Reafirmo o que disse aqui e aqui.
Obrigada aos que me visitam e comentam.


É preciso dobrar o grito. Hoje. Para que conste. Ainda que a ninguém.

29.12.08

ENTRE COISAS


Entre o Natal e o Ano Novo, há o sentimento vazio de coisas encerradas e coisas à espera de serem abertas.

28.12.08

OS ESCOLHIDOS

Melhores Blogues de 2008. Escolha da Dobra Do Grito:

Fworld Blog

Bandeira ao Vento

Sem Pénis Nem Inveja

Szerinting

Da Literatura

22 - GUSTAV KLIMT


Nasceu em Viena, a 14 de Julho de 18622 e morreu a 6 de Fevereiro de 1918, também em Viena. Pintor simbolista austríaco.
Em 1876 estudou desenho ornamental na Escola de Artes Decorativas. Associado ao simbolismo, destacou-se dentro do movimento Art nouveau austríaco e foi um dos fundadores do movimento da Secessão de Viena.


Klimt foi também membro honorário das universidades de Munique e Viena. Os seus maiores trabalhos incluem pinturas, murais, esboços e outros objetos de arte, muitos dos quais estão em exposição na Galeria da Secessão de Viena.

27.12.08

26.12.08

PAPÉIS NO LIXO


A importância do dia 26 de Dezembro é superior à importância do dia 25. Posso dormir até tarde, não me preocupo com cozinhados, não tenho que visitar ninguém e a casa voltou ao silêncio. Vou deitar os papéis fora.

25.12.08

DA DOBRA PARA TODOS


Todos os personagens deste blog, desejam Feliz Natal a todos os personagens que o visitam.

24.12.08

TODOS OS DIAS


O jantar acabou tarde. Vicente, Leonor e Teresa saíram às quatro da madrugada, depois de perceberem que Miguel ficaria em casa de Luísa. Tinham bebido demais e decidiram chamar um táxi. Cantavam baixinho músicas de uma infância longínqua.



Miguel e Luísa aguardavam a hora do desejo. Intranquilo. Ele abraçava-a e ficava quieto, tenso, muito perto de lhe dizer que a amava. O amanhecer era tranquilo e, ao mesmo tempo, trazia a tristeza da despedida.
Sabiam-se unidos por ausências. Era essa, a verdade partilhada todos os dias.

23.12.08

MEDO


- Há medo quando há amor?
- O amor provoca medo, sabes disso quando me abraças como se não houvesse amanhã. Parece teres essa verdade distribuída pelos dois braços.
Miguel aquietou-se, como se lhe tivessem cravado fundo um sentimento de que fugira toda a vida.

22.12.08

A URGÊNCIA DAS PALAVRAS


Era preciso preparar o jantar marcado para as nove. As mulheres chegavam sempre primeiro. Aos homens, o tempo ia escapando por entre as roupas que demoravam a escolher.
Sacudiu os braços e endireitou as costas. Foi para a cozinha depois de pôr música. Acendeu duas velas e encostou-se à bancada, dispondo os ingredientes da receita.
Tinha colocado na mesa os queijos e as entradas de frutos e amêndoas. Eram cinco pratos brancos em cima de uma toalha cor de chocolate. Os talheres eram herança de família. Deixou cair algumas flores na jarra de prata.
Voltou à cozinha, e ao cheiro das natas a ferver. Ouviu tocar a campainha duas vezes pequenas.
Deve ser o Miguel, pensou. Desta vez não se atrasou. Correu para a porta e viu-o inteiro. Grande. Abraço imenso.
- Cheiras bem, Luísa.
A campainha voltou a tocar. Todos, à chegada, perceberam a urgência das palavras.

21.12.08

DOBRAS E GRITOS (31)



Depois de um concerto memorável, dobras e gritos, só em voz baixa e pequena. O Campo Pequeno foi grande. O frio foi quente e as mãos não chegaram ao palco. Ouvir foi pouco. Quero mais.

20.12.08

NOITE DE TANGO EM LISBOA

Gotan Project

O Tango chega a Lisboa. Campo Pequeno. Noite para deixar sair o corpo da gaveta e a alma do armário. Salto raso. Mãos dadas ao amante e muita consideração pelo êxtase!

19.12.08

HOJE FICAS COMIGO


Viviam num bairro antigo de Lisboa. Ruas estreitas calcetadas, mercearia antiga e padaria com bancada de pedra. Todos os dias de manhã se encontravam no café do Sr. Jacinto, muito perto do quiosque onde ela comprava o Jornal e ele, uma revista cuja primeira página fosse apelativa para apimentar o resto do dia.
Tinham decidido viver em casas separadas. Restava-lhes o desejo contínuo do encontro, quando ambos estremeciam e a campainha de uma das casas tocava. Abria-se a porta e desapareciam as palavras. Miguel estendia-lhe o abraço e entregava-lhe a alma toda, as mãos envolviam-lhe o corpo e Luísa rendia-se ao cheiro e à cor da respiração. Empurrava a porta com a ponta do pé e sussurrava:
- Hoje ficas comigo.

18.12.08

DE VEZ EM QUANDO


"O mundo precisa, de vez em quando, de homens que não saibam mentir como os outros."
Robert Musil; O Homem Sem Qualidades

17.12.08

BEIJOS SÃO COMO MONTES NO ALENTEJO


Ficam longe do tempo. O local escolhe-se com critério e o espaço é decorado com desejo e prazer entranhados.
Montes no Alentejo são lugares de paragem. Como os beijos, escolhem-se os momentos da entrega e da troca. Colocam-se os corpos a jeito de um qualquer sentido desmedido e vamos, sem rede, até onde o calor esbarra.

Saindo de Lisboa a tempo de uma viagem directa ao beijo esperado, o monte aguarda-nos sem expectativas. Conhece-nos e acolhe-nos, entre as grossas paredes de pedra gasta e a rede do alpendre, aquela que ofereceu amor eterno. Esticam-se os braços e a boca espera-nos, como as oliveiras que espreguiçam a saudade. A viagem é bonita porque, como o beijo, lenta e profunda. Olham-se estradas encurtadas pela ânsia de ver a fonte e o alecrim que se põe nas mãos para que cheirem bem.
Longe do tempo, beijos são marcas de apetite sem hora, como os montes que aguardam pessoas para o leito, o quente da lareira e o duche de frente para a planície. Depois do corpo e do cheiro, depois das palavras, do grito, do espasmo, do suor e devaneio, o monte no Alentejo transforma em canção, todos os livros e todos os chás de menta divididos debaixo da lua.
Montes no Alentejo são tempos longos, casas com história e beijos eternos. Colocamos em cima de um prato de comida quente, duas margaridas brancas, sorrimos para o beijo que queremos urgente e percebemos que, no Alentejo, as horas são viscosas, duram o tempo do corpo deitado em arco, sempre que o mundo dá azo à imaginação e à viagem mais pura da vida.
Beijos são como montes no Alentejo. Esperam-nos sempre que estamos despertos e quentes.


Cinema Paradiso

15.12.08

COISAS QUE ME INQUIETAM (10)

"Há uma fase na vida em que esta abranda de forma nítida, como se hesitasse entre continuar ou alterar o seu rumo. É possível que nesta fase seja mais fácil o azar vir ao nosso encontro."

Rober Musil; A Portuguesa e outras Novelas

14.12.08

PRESENTES ADIADOS


Vou procurar os presentes de Natal que ficarão no saco da ausência.

13.12.08

ESPANTO


Desde que uso a pré-publicação de posts, consigo espantar-me com o que deixei escrito há muitos dias atrás.

11.12.08

BONITA IGNORÂNCIA


O caminho que faltava percorrer era-lhe desconhecido. A noiva ia contente.

10.12.08

SEXO EM FORMA ESCRITA

Em 1986, Kim Basinger e Mickey Rourke fizeram furor.

Sabe, quem escreve todos os dias, que há temas onde a dificuldade impera. Não são ideias nem preconceitos que fazem barreira à escrita, é intrínseco ao tema, o entrave nas palavras. Escrever sobre sexo é exercício complexo. Mais que o acto. Os parágrafos acontecem mais pequenos, os conceitos escolhem-se com cuidado e, é muito grande, o risco de encontrarmos uma estrada cor-de-rosa cintilante onde o piroso domina. Os corações a brilhar, os lugares comuns, as palavras que, de ditas a escritas, resvalam para registo parolo indescritível.
Percebe-se a dificuldade de uma escrita horizontal quando preparamos as linhas e a pontuação, num chorrilho brejeiro e dourado de letras mais molhadas que o desenho de uma realidade vivida ou chuva de suspiros sussurrados em dia de Inverno.
Escrever sobre sexo é difícil. O maior e mais completo encontro entre nós e nós próprios, pode não ser objecto de materialização em texto porque, quase sempre, o ultrapassa.

8.12.08

PODER


Ao pai, agarramo-nos com a força do saber. Os braços do pai têm sempre o poder da desmedida protecção.

DOBRAS E GRITOS (30)

Morreu António Alçada Baptista. Estou triste.

7.12.08

FÁCEIS DECISÕES


Quando a vontade pequena ainda não é a nossa, agarramo-nos com força à mãe, aquela que sabe sempre decidir por nós.

6.12.08

OBRIGADA MARTA

Um grande abraço à menina que, pacientemente, me ensinou a colocar música no blog. Bem hajam almas bonitas que nos ajudam a sair das trevas.

LEVARAM-NA


Era o dia de partir. Cedo a esperavam os homens. Tinham-lhe dito que precisava mudar de lugar, de ir para onde nunca tinha sido. Pegaram-lhe nos braços e, com força, levaram-na para perto do ruído da secura das árvores. A mãe não podia impedi-la, tinha morrido há muito tempo, quando ela ainda não tinha vontade.

5.12.08

20 - BO BARTLETT


Bo Bartlett inscreve-se na tradição do realismo americano. Analisa a América e o seu povo, descreve a beleza que encontra na vida quotidiana. As suas pinturas comemoram o lugar-comum e a significância pessoal do extraordinário. Vida, morte, passagem, memória e confronto coexistem facilmente no seu mundo. Família e amigos são o elenco de personagens que aparecem no seu sonho narrativo.

4.12.08

PROCISSÃO


A minha mãe costumava vestir-me bonita para ir à procissão. Era dia de festa sagrada e família reunida na varanda da avó.

3.12.08

- Distraído?
- Não, estava a pensar no tempo e nos corpos. Naquilo que fazemos quando brincamos com eles.
- Brincar com os corpos é perigoso.
- Não é nada. Perigoso é não brincar.

ADORMECIMENTO


Quando o cansaço permite o sumo, os corpos resvalam para o adormecimento.

2.12.08

SEVERA


Lisboa e o fado. O beco, a rua, a guitarra e o destino. Lisboa e o som da viela. Timbre de voz sofrida que canta amores, traições, infiéis relações desmedidas.
Lisboa e a severa. A mulher do fado inteiro.

1.12.08

DOBRAS E GRITOS (29)

Veio-me agora à ideia a senhora púdica. Dizia ao marido para se despir longe dela. Enquanto o homem lhe satisfazia o desejo, ela espreitava-o pela fechadura.

AINDA


Ainda me contento, ainda me desperto. Ainda me permito ser o que procuro. Ainda vejo o norte, ainda me inquieto. Ainda me permito ao sonho do que não tenho.