O ano letivo começou com a tristeza e a desmotivação.
Semanas antes de conhecerem os alunos, os professores tiveram overdose de reuniões que se assemelharam
a números de circo de terceira categoria. Corpos pouco bronzeados por fora e
estragados por dentro, cheios de alma nenhuma, chegaram à escola e não sorriram.
As medidas economicistas do governo e os estados mentais dos docentes estragaram
as parcas férias que tinham gozado. Mentes sem esperança foram para a sala de
aula deixando para trás a vontade retirada das malas cansadas. Sorrisos
esconderam-se e mãos ficaram sem nada. A escola passou a ser lugar de
cumprimento obrigatório das horas e dos dias de trabalho sem sentido. O ano
letivo começou e, com ele, a sensação de incapacidade face a um trabalho pouco
estimulante porque nada reconhecido.
As pessoas são muito mais responsáveis pelo ambiente onde
trabalham que qualquer ministro que debite leis risíveis. Os professores estão
doentes, deixaram-se invadir pela falta de criatividade e entregaram-se aos
papéis e aos diálogos vazios. Já não há ideias, os textos debitados para as
atas são um complexo enredo de palavras técnicas desprovidas de humanidade, as
reuniões são um saco cheio de nada e os corredores são um espaço onde circulam não pessoas, autómatos programados para
agir porque sim. Quem tem iniciativa torna-se ameaça porque a vontade de criar
faz comichão aos egos inchados de pseudopoder. A lei é interpretada para o que
convém e os dias são vividos ao sabor do desalento.
As caras e os corpos dos alunos ainda podem ser um resíduo
de motivação para uma classe que adoeceu. Acordem os que querem da vida, mais
que uma escola burocrática e desumana. Fiquem atentos os que podem e sabem
trabalhar com vontade, peguem na mala cansada e deitem-na fora, é preciso
comprar uma nova, com urgência.
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