15.7.13

Vida pouca

Foto minha






















Para quem me lê e já não me conhece, acredito que não entenda, que não retire daqui mais que palavras cheias de vento. Não é por causa do vento nem das palavras, é por causa do vazio que existe quando as pessoas se separam. E há separações muito boas, as que acontecem quando a vida já é pouca.

17.6.13

Desejos perversos do invejoso

A inveja pode ser definida como uma vontade frustrada de possuir os atributos ou as qualidades de um outro ser. Aquele que deseja tais virtudes é incapaz de as alcançar, seja pela incompetência ou por qualquer tipo de limitação. 

A inveja corrói o invejoso, transforma-o numa espécie de perseguidor. O invejoso tem sempre a certeza de que o não é e vive na perseguição de um ser que não consegue imitar, tal sentimento é destruidor de relações e impede a construção e a criatividade. O invejoso é um ser deficiente, emocionalmente instável e profundamente infeliz. A sua infelicidade, ao invés de lhe proporcionar a capacidade de se transformar, condu-lo a uma espécie de obsessão, o objetivo é que o outro não faça, não progrida, não tenha sucesso e erre muito. 

Há um prazer pornográfico e sujo quando vê o outro cair, a certeza da competência alheia faz-lhe comichão debaixo dos braços e tira-lhe o sono. Quando se trata de alguém que, a troco de nada e só porque sim, consegue construir e ser maior, o invejoso não dorme, inventa tudo o que pode para por no chão quem brilha e se destaca. É por ser infeliz e incapaz que a inveja aparece, cresce como uma planta e é alimentada pela raiva de si mesmo. 


Há quem passe o tempo a olhar para os melhores, a pedir que não o sejam, a trabalhar para lhes dificultar a vida. Há quem, de tão infeliz e frustrado, não consiga ficar contente com nada de bom que os outros façam. A inveja é uma doença contagiosa, basta que passe de pais para filhos, às refeições e nas conversas em família, cuidado, pega-se porque se transmite por palavras e atos. 

O invejoso é um ser perigoso, mas tem remissão: se conseguir ser feliz e perceber que é bom ver os outros felizes, perceberá que a vida ganha cor. O invejoso vive a preto e branco e todas as cores o perturbam, como não consegue pintar o seu mundo, acha que o dos outros também tem de ser escuro. Na sua cabeça está a luta pela mediocridade generalizada, não quer ficar sozinho e, por isso, faz descer quem sobe e chorar quem ri, não vá o mundo alheio ficar acima do seu chão porco e pouco polido. O desejo supremo de um invejoso é inconfessável, secreto, só ele o conhece e por ele vive.


Os perversos desejos do invejoso acabarão, no dia em que descobrir que pode ultrapassar a frustração que o consome e a infelicidade que o corrói.  

7.6.13

Contágios que se impõem

Quando tiveres à tua volta pessoas empenhadas em inventar desgraças que não existem e imaginar tragédias que ainda não aconteceram, pensa bem, não nas palavras que ouves mas naquilo que tu próprio sentes. Em último caso foge para longe e interroga-te: Qual a razão por que se lamentam? O que me aflige é o mal real, não o mal de opinião fundamentado em receios que se inventam. E quanto aos contágios que se impõem, lamento mas não estou cá.

Coisas que me inquietam (41)


Crianças são humanidades pequenas que precisam de ajuda para se tornarem grandes e boas. Crianças são responsabilidade de pessoas grandes, as que só deviam poder tê-las se passassem por um controlo rigoroso de qualidade.

28.5.13

Diálogo mudo

Objetos novos são coisas que parecem não existir, precisam do tempo e da experiência. Quando ganham a vida que lhes passa por cima, tornam-se coisas reais, capazes de um diálogo mudo que enriquece quem os usa.

27.5.13

Verde com orelhas

Quando o corpo se instala no verde com orelhas, a realidade parece mais macia, como se todos os olhos do mundo pudessem fechar-se para entender o silêncio do lugar escolhido e pago com os dias de trabalho feito. O verde com orelhas é um sofá sem história, ainda. Quando os dias e as noites lhe preencherem o forro e a estrutura, o verde ficará da cor que se quiser, basta que a imaginação ganhe pernas e braços.

23.5.13

Nadar para o alto

Colei muitos papelinhos atrás da porta, cada um tem uma frase. Cá em casa há mais quem cole escritos em papéis, para que se vejam à entrada e à saída. Atrás da porta estão os propósitos e as metas. Começar o caminho com um passo, depois ir andando, ao ritmo das vontades e das promessas feitas debaixo da água que nos leva a nadar para o alto.



22.5.13

Ecos ou fantasmas

Se houvesse realidade objetiva, firme e imutável, não haveria mal entendidos, conflitos e zangas. Talvez não estejamos preparados para usar as palavras certas. As palavras que dizemos são eco em nós, nos outros os ecos podem transformar-se em fantasmas. Problema? Não. Pormenor a que não se dá atenção, ocupados que andamos com o mundo que é o nosso.

21.5.13

Perigosos e viciantes somos nós

Há algum tempo que me enrolei numa rede social. Por causa de uma filha que queria, por causa dos amigos, por causa de mim, essencialmente por causa de mim, porque isto de autossabotar o raciocínio é comum mas não é saudável. Pronto, fui eu que decidi aderir ao facebook, e foi uma mudança que não se qualifica nem quantifica, foi apenas uma mudança. Deixando fora julgamentos e contra pesos, o facebook é uma ferramenta que pode ser mal ou bem usada. Dizem por aí que é perigoso e viciante mas eu acredito que perigosos e viciantes somos nós. É como os chocolates, não fazem mal nenhum, somos nós que os usamos mal quando decidimos entupir-nos de calorias sem medida. As redes sociais são ferramentas para usar com o mesmo discernimento com que se usam chocolates, bebidas alcoólicas e outros prazeres que podem causar intoxicação quando o descontrolo acontece e é nossa a responsabilidade.


Quem considera o facebook uma coisa má, deve evitá-lo, porque usar e dizer que é mau não me parece coerente. Penso-o como uma forma de partilha, uma forma de saber que músicas se ouvem, que lugares se visitam, que peças de teatro são boas, que fadistas cantam em Alfama, que praias têm bandeira azul e que filmes estão no King. É uma outra forma de amar à distância, a possibilidade de um mimo virtual que se prolonga para o dia seguinte. Ali estamos próximos porque trocamos interesses, e o entusiasmo da troca não precisa sempre do corpo. Para os que escolhem ter "amigos" que não conhecem e mostram fotografias da família, dizendo o que se come lá em casa, diria que o facebook é um diário público. Nada contra, nem a favor, afinal cada um usa a faca que quer para cortar o bife que escolheu comer.  


Perigosos e viciantes somos nós quando, ao invés de controlarmos comportamentos menos positivos, arranjamos desculpas bem longe. Há algum tempo que me enrolei numa rede social, já a usei de muitas formas diferentes e é essa riqueza de erros e acertos que me faz, hoje, pensar naquele lugar como uma forma de entender e dar a entender as coisas que se interpretam.