3.10.11

Diário de Etelvina (03)

Depois de conhecer as mulheres da sala 33 percebeu que a criatividade tinha que ser usada, ou melhor, descoberta. Etelvina ficou confusa. Ouviu as histórias das doentes, sentou-se no colo de uma que estava convencida poder ser a mãe dela, pegou na mão de outra que pensava andar perdida numa floresta e acalmou a que chorava muito sem saber explicar porquê. Depois olhou para todas e disse:
- Eu vou impor regras.
- O que é isso? – perguntou a mulher que chuchava no dedo.
- São normas de comportamento.
- O quê?
- Aquilo que vocês não têm e precisam começar a ter.
- Está a falar do juízo?
- Também.
- Sabe uma coisa, D. Etelvina? O juízo é aquilo que todos dizem que têm e ninguém prova ter.
- Por que razão diz isso?
- Porque conheço as palavras mas nunca vi os actos.
- E você, Manuela, tem juízo?
- Tenho tanto juízo que me deixo estar aqui à espera que alguém venha para me avisar que estou boa.
- E depois?
- Depois finjo que acredito e vou à minha vida, juntar-me a todos os outros fingidores.


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