1.3.08

A ESTRANHEZA DO SILÊNCIO


O espaço era pequeno e despojado de coisas. Sentei-me. Eram poucos bancos, espalhados ao acaso. As paredes estavam nuas. Não existiam sons e havia poucas cores. Fechei os olhos. Alguma coisa transcendente ao tempo e ao espaço invadiu o momento. Senti tudo de muito perto. Quieta. As pessoas tinham ido embora. O espaço parecia agarrar-me com força, não permitia o movimento do olhar, nem do pensamento. Sabia que o tempo passava à minha volta. Não ousei mexer os braços nem as pernas. Continuei de olhos fechados. Alguém me tocou no braço devagar:
- Desculpe, não pode estar aqui, estão a chegar os convidados.
- Que convidados? – Questionei.
- As pessoas que chegam todos os dias à mesma hora para festejar.
- Festejar?
- Sim, juntam-se para conversar e beber. Reúnem-se de porta fechada, a festa é privada. Gente exigente, não há permissão para deixar ficar estranhos.
- Não entendi.
- Não precisa de entender, só de sair.
Pensei que podia não estar no lugar certo. Saí devagar e andei pela rua, sem destino. Abri os braços ao rio e gritei, gritei muito. Depois daquela pausa no tempo, percebi que a festa privada não era, de facto, minha. A estranheza do silêncio não cabia naquele tempo de pessoas, nem no espaço inteiro da minha ausência.

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