30.4.11
29.4.11
ENCONTRO
- É. Quando gritas e te encontras eu fico com essa certeza.
- E tu? Encontras-te no silêncio?
- Não se fazem perguntas para as quais se tem resposta, Luísa.
28.4.11
SIMPATIA
- Simpatia é outra coisa.
- É?
- Sabes que sim.
- Olha que me vou enfiar dentro de um caixote com rodas e tampa.
- Para quê?
- Para tapar a minha timidez e descer a rua com ela.
- Deixa-te disso, Luísa.
- Não vale a pena perguntar para onde vamos pois não?
- Não.
26.4.11
ILUDIDOS
O photoshop é um programa informático usado pelos que ainda acreditam que a perfeição existe.
23.4.11
CADEIRAS VAZIAS
Quando encontramos o canto, os pássaros voam alto e deixam cadeiras vazias. Depois vêm as gentes, os corpos que ocupam terreno, os corpos que mexem perto de nós como que a pedir que os olhemos. Em dia de aniversário, as cadeiras estão cheias de gente contente e, nem os corpos nem as almas pedem olhares atentos. Hoje é dia de beijos por isso as cadeiras estão cheias e ocupam o espaço inteiro.
22.4.11
A PORTA
A porta na cidade estava aberta, pronta para passagens. Dia claro e céu azul. A porta na cidade serve para que, passando, encontremos o ar e os pássaros. Sentados do lado de fora, podemos entender a porta como caminho, ecomo encontro ou despedida.
18.4.11
"Salmão Amizade"
Entre palavras e risos e corpos e mesas e sons e luzes e portas e cheiros e pessoas. Entre mensagens trocadas e cigarros por fumar. Entre cores que se misturam em vidas e palavras. Entre ideias em livros, duas mulheres encontram cor:
“(…) misturados bem os tons
na paleta da verdade
nasceu a mais perfeita cor
a de salmão amizade (…).”
A cor é da Ana. A Ana escreveu um livro que é preciso ler, escreveu o poema incompleto que acima cito e escreve todas as noites como se não houvesse amanhã. A Ana é mulher que põe palavras em cima de branco. Todas merecem ser lidas.
11.4.11
BOTÕES
- Bom dia! Quero propor-lhe uma coisa. Desenvolva. Não deixe os leitores com água na boca. Mexa nas perguntas, suba-lhes a temperatura!
- A temperatura das palavras?
- Sim, e eleve as ideias até o forno ficar bem quente.
- Vou mexer nos botões.
- Mexa, rode todos para a direita e, quando os desligar, não se esqueça do amanhã.
10.4.11
NOITE
Duas e meia da manhã. Vidros embaciados. Segunda circular sem trânsito. Zero Seven- Simple Things (faixa 6). 80 Km à hora. Nada para dizer. O radar confirmou a sua existência. Calma. Carro na garagem. Boa noite ao homem que varre as folhas secas do chão da minha rua. Entrada em casa. Desmaquilhante. Escova de dentes. Pijama. Na secretária e, de novo, Zero Seven (faixa 7).
8.4.11
CLASSES
“Só existem duas classes de pessoas realmente fascinantes, as que sabem absolutamente tudo e as que não sabem absolutamente nada”
Oscar Wilde; O Retrato de Dorian Gray
7.4.11
PERSPECTIVA
“- Eu nunca aprovo nem reprovo coisa nenhuma. É uma forma absurda de encarar a vida. Nós não viemos ao mundo para exercitar os nossos preconceitos morais. Eu nunca presto atenção ao que dizem as pessoas vulgares, nem nunca interfiro com o que fazem as pessoas fascinantes.”
Oscar Wilde; O Retrato de Dorian Gray
6.4.11
PAIXÃO ETERNA
“- Sempre! Que palavra terrível. Estremeço de cada vez que a ouço. As mulheres gostam tanto de a usar. Estragam o romance com a teima de que deve durar para sempre. E além disso é uma palavra que não significa nada. A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura mais tempo.”
Oscar Wilde; O Retrato de Dorian Gray
5.4.11
PECADOS
“Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo.”
Oscar Wilde; O Retrato de Dorian Gray
4.4.11
ARTISTAS
- Detesto-os por isso mesmo – indignou-se Hallward.
- Um artista deve criar coisas belas, mas não deve imiscuir nelas a própria vida. Vivemos numa época em que os homens tratam a arte como se fosse uma forma de auto-biografia. Perdemos o conceito abstracto de beleza."
Oscar Wilde; O Retrato de Dorian Gray
3.4.11
2.4.11
LUÍSA
Há muito tempo que existe. Tem um marcador neste blogue. Luísa experimentou quase tudo, é a personagem que vive no tempo dos silêncios falsos e das palavras frias. Eu não sou a Luísa, mas podia sê-lo, se quisesse!
1.4.11
ANA
Ana era uma mulher prática. Usava calças e saltos rasos para poder subir e descer com rapidez. Quem a conhecia sabia-a inteligente, quem não privava com ela, julgava-a mulher vazia. A Ana não se importava, estava tão habituada a que segredassem nas suas costas que se ria imenso. O sentido de humor era uma das suas armas fortes, usava-o todos os dias, apesar de ser entendida apenas por alguns. Às vezes diziam-lhe:
- Cuidado, essa ironia pode ser mal entendida…
- Que entendam o que quiserem.
Ana era tão determinada que rompia o ar enquanto andava. Amada por poucos, sabia-se inteira e isso era importante.
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