18.3.11

A CASA DE TERESA

Há muitos anos que o mar era companheiro. Sentava-se no degrau perto da areia e inventava histórias de com o que via: algas, búzios e conchas eram os personagens que criava quando lhe apetecia imaginar. Sempre gostou mais da praia em frente da casa do que do jardim, a parte de traz trazia as lembranças de uma menina que cresceu sozinha. Há muito tempo que aquela casa era sua, a herança de uma avó bonita tinha-a posto ali, dona de uma propriedade, de um recanto, de muitas memórias.

Todos os dias de manhã, Teresa acordava com o ressoar das ondas. Há muito que estava habituada ao natural despertador que a avisava da madrugada. Vivia sozinha. Os filhos tinham partido para a cidade e o marido morrera muito novo. Teresa sabia a importância de uma casa de família e, por isso, mantinha-se nela sem que dúvidas a assaltassem. A cozinha era o lugar onde inventava sabores e a mesa grande da sala era o lugar dos visitantes que, de longe em longe, vinham provar iguarias.

Teresa gostava de receber bem, misturava os sabores com as histórias que imaginava sentada no degrau perto da areia. Os convidados vinham aos jantares de Teresa entusiasmados. Depois do jantar, onde os morangos e a poesia eram mistura perfeita, Teresa convidava a que se sentassem perto do patamar de pedra que dava para a duna. Nas cadeiras de vime pintadas de castanho, todos construíam histórias. Teresa tinha escolhido o vinho e o poema da noite. Depois, era preciso que convidados e parentes retribuíssem com o que tinham ou podiam.

Quase sempre a parte de cima da casa era ponto de partida para histórias incomuns. Com o copo na mão e muito riso, Teresa ouvia os contos e os poemas que os amigos lhe ofereciam. Fadas e duendes, anjos e demónios, vagueavam de quarto em quarto pousando em estantes e quadros, rindo de fotografias e peças de mobiliário encerado. Toda a noite era cheia de momentos e até os cães enchiam o ambiente quando, por causa das gargalhadas, ladravam contentes.

Teresa sabia que aquela casa era completa, tinha dela recordações de que não podia, nem queria fugir. Vivia com todos os que, com ela, queriam dividir poemas, por isso ali ficava, inventando na cozinha, compondo na sala e mostrando, perto da duna, tudo a que dava valor.

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