7.3.11

O TEMPO DA IDADE

Tinha dezoito anos e sabia tão pouco da vida que, de pensar nisso, fico com os pêlos dos braços em arrepio. Oscar wilde dizia que “o problema de uma mulher de 18 anos é, exactamente, ter dezoito anos.” Confirmo. Nada como deixar passar o tempo e sentir o peso dos dias para perceber o quanto se aprende com esse incessante movimento da consciência. O corpo envelhece. A arrogância e a energia da juventude vão-se. Ainda bem.
Chegada a Lisboa com a mania que era mulher, de pasta na mão a caminho da faculdade, pensava que a independência tinha chegado. Engano. Nem era independente nem era mulher. A experiência é a única coisa que não se ensina. O convencimento perdeu-se no dia em que entrei no mundo do trabalho e percebi que não era o canudo que valia, mas o saber fazer. Deixei a pasta encostada a uma parede vazia e comecei a andar com maior confiança, já não tropeçava naquele objecto duro com fecho dourado. Aquela coisa postiça deixava de me servir, de encaixar num lugar onde os trunfos eram outros.
Escrevia como quem não pensa. Hoje as palavras são outras, já não cabem na pasta da faculdade que ficou encostada à parede. Mudou o jogo. Há pessoas que me lêem e nunca lhes agradeci por isso. Que o enorme abraço chegue perto dos que, conhecendo-me ou não, me soletram com a energia que têm.
Um grande senhor do espectáculo ensinou-me: “não escrevas para ti, escreve para os que te lêem”.
Quando crescemos ouvimos os outros e percebemos que não somos o centro do mundo. É apenas uma das diferenças entre as meninas e as mulheres. Há outras.

2 comentários:

-pirata-vermelho- disse...

Pois há, outras... que podiam ser ditas como idade e que são tidas com o percurso que a idade denota
mas!
(changeons)
a escrita é sempre narcísica - trata-se de a encaminhar, não é?

Anónimo disse...

A escrita nem sempre é narcísica, embora esbarre para o narcisismo com facilidade se quisermos ou não estivermos atentos.

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