Em breve telefono-lhe para que perceba que as coisas não podem
ficar assim. Tem a mania que, agora que está como os pássaros, manda na vida…
não manda nem mandará. Eu aqui sozinho, cheio de dores e não me dá
possibilidade de falar? Devia pegar no telefone e dizer-lhe o que merece ouvir,
o problema é que ela pega sempre no telefone com a mão esquerda e isso
dificulta-me o raciocínio. Podia dizer-lhe, por exemplo: “muda lá a mão com que
pegas no telefone que me estás a irritar. És tão esquerda nas atitudes como na
forma como me ouves. Não sabes que estou doente? Enquanto estivemos juntos,
entupias-me de benurons quando eu
caía na cama, tinhas preocupações com os meus pelos púbicos e tratavas-me como
uma criança. Agora que tens a mania que estás sozinha e que és solteira,
armas-te em boa.”
Já sei que a conversa pararia em menos de cinco minutos. Desde que
me vim embora que tudo me acontece, é o corpo em desassossego, é a vontade que
não funciona, é a porta que não se abre… e tudo por causa desta ausência. Com
tanta liberdade ainda quero ver como vou tomar conta de mim.
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