31.1.08
NINGUÉM
Considerei sentir e observar, nas ruas da minha cidade, a pressa e o tempo que passa sem que as pessoas se apercebam do que verdadeiramente acontece. Sentei-me quieta num terminal de metropolitano. Permaneci meia hora em silêncio. Atenta. Senti muita gente confusa, algumas pessoas tristes, outras que se riam da vida e muitas com ânsia de chegar. Fiquei quieta e, a quem me via, sorria com um aceno como se lhes dissesse: calma, a tua respiração está aí e os teus pés existem, vive com eles no chão, mas não te esqueças que amanhã podes não ter essa força ou essa pressa. De nada valeu o olhar atento. Os outros continuaram o caminho. Eu vim embora depois de perceber que ninguém me ouvia os pensamentos.
30.1.08
ESTUPIDEZ
29.1.08
AMAR EM LIBERDADE
(Resende)
28.1.08
2 - JÚLIO RESENDE
A acumulação de pastas e blocos de desenhos, registos de vivências (quantas!) despertaram em mim o imperativo de uma reflexão desapaixonada quanto ao destino a dar a tais registos. A distância do tempo e do espaço permitiu-me julgar a consistência de um material face a uma trajectória que me recaía por obscuras leis e nada teve de doloroso da minha parte a destruição de grande quantidade desses desenhos; seria disso testemunha a velha mufla de aquecimento do atelier, se ela falasse....A consciência mais aliciada levou-me a verificar que as hesitações de percurso uma vez eliminadas, tornavam mais claro o referido trajecto que, iniciado nos anos 30 cobriam 60 anos nos quais a dominante expressionista respondia necessariamente à minha, natureza de homem. Confesso que na minha mente era consistente o desejo de manter o conjunto íntegro, e isso bastava-me.
Que o Desenho seja entendido no seu mais amplo sentido. Não apenas restrito às Artes-Plásticas mas a todas atitudes criativas do Homem. Não é monopólio de qualquer época nem de qualquer sociedade.O Desenho é expressão de um consciente que o particulariza"
Júlio Resende nasceu no Porto a 23 de Outubro de 1917.
25.1.08
ENTRE DUAS PRESENÇAS
DOBRAS E GRITOS (9)
Depois de um fim-de-semana cheio de luz, areia e sol, regressarei com Júlio Resende.
24.1.08
DISCIPLINA
QUADRO
(Pollock)
A vida pode ser um quadro pintado por nós. Sentemo-nos atentos em frente à tela. Peguemos no pincel e nas tintas. Trabalhemos. Os riscos formam-se e o quadro afilge-nos. Ou não. Porque sabemos que, um dia, num lugar por nós construído ficará a marca da nossa presença.
23.1.08
RISO E CANSAÇO
22.1.08
ANJOS QUE DANÇAM
(Pollock)
Depois de algumas reflexões sobre o novo sistema de avaliação dos professores, apetece-me fazer dançar os anjos. Afinal, sabemos que, nem sempre, conseguimos fazer da vida aquilo que queremos. Julgo que hoje, os professores do nosso país (refiro-me aos que gostam de ensinar), se deparam com uma questão fundamental, a saber: a escola deixou de ser um lugar de conhecimento para passar a ser um lugar de entretenimento pseudo-cultural. Desta forma, ou os professores se adaptam a uma avaliação desajustada e perversa, ou saem para defender a dignidade que estão prestes a perder. Aos que ficam (por gosto ou necessidade), que façam dançar os anjos a fim de sobreviverem física e psiquicamente. Aos que saem, a melhor sorte do mundo. É urgente salvar a nossa individualidade. Se não o fizermos com inteligência e sentido crítico, não só os anjos não dançam como ainda se corre o risco de uma necessidade urgente de terapia. É uma questão de saúde pública.
21.1.08
A CAIXA
(Pollock)
O COMENTÁRIO
(Shopenhauer)
19.1.08
DOBRAS E GRITOS (7)
17.1.08
COMPARAÇÕES
(Pollock)
Agora que o sábado se aproxima, vou pintar humildes rabiscos para perto de pessoas bonitas.
MUTISMO
DOBRAS E GRITOS (6)
16.1.08
INTUIÇÃO
(Pollock)
15.1.08
DEMASIADAS ESCOLHAS
14.1.08
GEMIDO
(Pollock)
DOBRAS E GRITOS (5)
12.1.08
ALMAS DISPOSTAS
11.1.08
ATRÁS DO VIDRO
Avistam-se, por trás do estilhaço, imagens de pessoas que estão nuas. Dobram esquinas estreitas em ruas escuras. Desprotegidas. Corpos em plena descompostura e alegre riso. Correm. O vidro não é perceptível do lado de fora. De dentro, continua a visão do riso desmedido que perpassa arestas finas de tempo gasto na estilha partida. Há marcas nos corpos dos que correm e nos olhos de quem vê. Marcas de riso muito solto que, com o vento, se retira. A nudez permanece longe, ausente de tudo o que se avista por detrás da falha que perdura.
10.1.08
VIVER COM ELEGÂNCIA
9.1.08
O REAL E O DESEJÁVEL
(Pollock)
8.1.08
GRITO
Grito quando o desassossego chegar. Grito alto quando me apetecer. Deixo o protesto ficar onde a alma não coube ou o corpo não quis. Deixo que reste o prazer de um grito em uma pequena morte. Fico em sossego com o grito que não pude dar. Porque há instantes onde o silêncio do grito também se ouve.
7.1.08
DOBRA
Quando se dobra uma folha, fica o vinco, a marca de alguém que chegou ali. Quando se dobram palavras, ficam os sons da boca de quem as disse ou escreveu. Quando se dobram imagens, restam as perspectivas anunciadas de quem as olhou. E quando os dedos se dobram, fica a mão sozinha ou em outras. Como se um gesto nos pudesse fazer entender que, uma dobra é sempre uma marca que persiste, para lá do que se vincou, ali, na presença instantânea de uma qualquer existência.
DOBRAS E GRITOS (3)
5.1.08
INCLINAÇÃO POÉTICA
4.1.08
CORPO QUE DANÇA
(Pollock)
3.1.08
DOBRAS E GRITOS (2)
Regresso das festas programadas, aquelas por que alguns esperam e de que alguns fogem. Regresso à saborosa normalidade quotidiana. Nada como dias comuns, podemos apreciar o imprevisto. Sem expectativa.
1 - JACKSON POLLOCK
Demoliu os limites impostos pelo cubismo, dando origem a um movimento artístico que ficou conhecido por Expressionismo Abstracto e que veio dar credibilidade à pintura americana do pós-guerra. A forma de pintar de Pollock ficou conhecida por "action painting".
O papel do inconsciente e dos sonhos na criação vão influenciar Pollock, que admira artistas como Picasso e Miró. Em 1939, Pollock começa a fazer psicanálise segundo o método do suíço Carl Jung, e o conceito de "inconsciente colectivo" passa também a marcar profundamente a sua obra.
A característica principal das pinturas de Pollock é a unidade, com a particularidade de serem feitas directamente, sem esboço. A imagem - abstracta - é construída à medida que vai sendo executada.O grande salto na carreira de Pollock deu-se na década de 40, quando o pintor conheceu aquela que, mais tarde, se tornaria sua mulher: Lee Krasner, artista ligada à arte abstracta.
A partir de 1950, a produção artística de Pollock entrou em declínio. O pintor perdeu a inspiração, entrou em estado depressivo e refugiou-se de novo no álcool. O seu casamento desfez-se e a sua pintura deixou de fazer furor. Morreu em 1956, aos 44 anos de idade, quando o carro que conduzia - em estado de embriaguez - se despistou e bateu contra uma árvore, a um quilómetro da sua casa de East Hampton. A morte violenta do pintor transformou a história da sua vida numa fábula trágica.Hoje, Pollock continua a ser louvado pela crítica e pelo público em geral, que o reconhecem como um dos maiores pintores modernos.
(Fontes: Sofia Frazoa e Claudia Castelo)
2.1.08
MEXER
(Pollock)
A sensação é de alguma fragilidade, como se tivesse um bebé e não soubesse bem o que fazer com ele. Talvez olhar com calma, perceber o que necessita, o que me pede. Talvez ouvir-lhe o gargalhar e entender que, dele, podem surgir as ideias ainda quietas, mexer-lhe as formas e sentir-lhe o cheiro.
1.1.08
PARA QUE A VIDA NÃO MORRA
Iniciar um ano com um novo blog. Não que o antigo fosse feio ou antipático. Era apenas antigo. Cansei. Matei-o. Morte bonita, anunciada devagar e dita depressa. Aqui podem surgir poderes de imagem ou palavra. Presenças mais ou menos vincadas pelas dobras da existência que se quer contente, sadia. Aqui acontecerão presenças de passagem pela dobra e pelo grito. Como se fosse urgente criar, a partir dos próprios criadores de cores e de texturas, de sons e de sabores. Para que a vida não morra atrás da porta fechada e dos gritos trancados.