Luísa conduzia na auto-estrada a 150 Km à hora. O sol de Inverno limitava-lhe a visão. Alcatrão gasto e carro pouco preparado. Pensou ser o tempo de trocar de máquina, já que os dedos pediam outro tipo de volante, outro tipo de assento. A estrada estava limpa de gente. Cinco da manhã. Regressavam a casa os que tinham a certeza do dia que nascia. Os outros ainda dormiam sem certezas, perto das almofadas cobertas de branco.
Um carro ultrapassou-a. O homem olhou e seguiu em frente, como que a dizer que estava ali. Luísa não entendeu e voltou a passar pelo lado esquerdo de quem lhe travava o andamento: parvo, pensou.
Depois de algumas ultrapassagens parecidas com uma corrida improvisada, os carros mantiveram-se lado a lado, entre a noite e o dia que, prestes a aparecer, prometia estranha aventura.
“Eu sou o Pedro. Café?”, estava escrito num papel colado ao vidro. Não podia ter sido escrito durante a viagem. Por certo tinha-o pronto para mostrar em ultrapassagens pensadas. Luísa sorriu e acenou com a cabeça. Deixou que o carro seguisse atrás de si e, alguns quilómetros depois assinalaram a saída para a estação de serviço. Pedro seguiu-a com todo o entusiasmo posto no rosto.
Luísa não desceu do carro, tirou da carteira um pequeno papel engelhado e escreveu: “eu não gosto de café e o meu nome situa-se entre o meu e o seu carro.” Luísa.
Atirou o papel para o asfalto no momento em que Pedro se preparava para lhe abrir a porta. Arrancou à velocidade permitida pela lei e pelo discernimento.
1 comentário:
Hum...
Este post suscita-me...
'Tás' a ver a coisa?
Só faltou o milho no meio... lol
Beijo em ti
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