Amadeo Modigliani
Coisa que serve para nada, depois de já ter servido para tudo. Não gosto de olhar para o meu umbigo, faz-me lembrar placenta e útero e sangue. Há quem queira deixar de o ter e, por isso, entra na sala de cirurgia. Prefiro-o ao nada que é o liso.
7 comentários:
Será apenas o umbigo a "coisa que serve para nada" e, diria eu, para tudo?
Agora que me fizeste pensar na questão do umbigo e na sua utilidade, vejo que tenho muita coisa em mim que serve para nada. Como a definição diz, não passam de cicatrizes, deprimidas ou salientes. Engraçadas as palavras!
Bom... vamos lá ao umbigo-de-freira que é bem mais doce e marcha bem com chá.
ACS disse...
Para que servem o Coliseu de Roma, a Torre de Belém, a ponte de Carlos V, depois de já terem servido, diria eu, para tudo? Não gosto de olhar para monumentos, fazem-me lembrar impérios e escravidão e sangue. Mas prefiro-os ao liso esquecimento.
Caro ACS, o que fica no esquecimento apenas por ter deixado de ser útil resvala, algumas vezes, para um anonimato degradante. No caso dos monumentos não é bonito. No caso do umbigo é um despropósito até porque, tal como disse, servirá sempre para guardar smarties na praia :)
Fields: E as coisas têm que servir para alguma coisa para justificarem a sua existência?
Longe de tais pensamentos burgueses. É no efémero que reside parte do encanto das coisas. O que justifica a sua existência é o desejo. Não há nada senão o que se deseja. E quando se deseja é nada.
Pois que a menina se situa no registo de uma possibilidade angustiante. Cuidado com as companhias, a começar por aquela mesa redonda onde gente muito estranha troca ideias muito estranhas. Pois que a menina até tem razão, sabia? Faz-me lembrar a ideia: o que me acontecerá se tudo o que eu desejo se realizar?
A minha vida seria bem mais cinzenta sem essa mesa redonda onde se trocam ideias estranhas!
No fundo, não sei situar-me fora do registo de uma possibilidade estranhamente angustiante.
Maldita lucidez!
"Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas".
Clarice Lispector
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