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Henri Cartier Bresson |
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Os outros são aqueles que connosco não vivem. Os
outros são todos os que existem do lado de fora do nosso afeto. Conhecemo-los,
passamos por eles com frequência, sabemos que vivem perto mas a nós não estão
ligados. Partindo da certeza de que, aos outros, nada se deve, supõe-se que,
por causa deles, nada se deixe de fazer. Um comportamento individual subjugado
ao que os outros pensam ou dizem é um comportamento inautêntico, falso e
cobarde. Por mais que a língua alheia se afie em comentários, deduções, ou
suposições, será sempre uma língua fora do meu alcance. Livres que são, todas
as gentes, rumores ou certezas badaladas por causa de mim, serão apenas leves
trajetórias de palavras em cima de fumo. Formas de estar e perceber podem ser
interpretadas por outros, desditas e inventadas, mas, mais não serão que fontes
de desprezo absoluto.
Viver em função das palavras que saem das bocas
alheias ou decidir atitudes em função de desditos criados porque sim, é perceber
que ainda se não encontrou a maturidade. Livres que são, de facto, todas as
gentes, urgente o entendimento de que, aos outros não interessa a vida minha. E
se interessar, que com ela preencham as horas vazias, fora e longe que quem,
como eu, se digna materializar a indiferença.
Sendo a liberdade a ausência de submissão, de
servidão ou determinação; sendo a presença da autonomia e da vontade, só pode
ser livre a pessoa que faz da conversa alheia, monte de pó para varrer.
Para Descartes, age com maior liberdade quem melhor
compreende as alternativas que existem à ação. É livre, pois, quem passa pela
vida percebendo que a alternativa à língua afiada dos outros, só pode ser uma: desinteresse.
Falem os que querem falar, restem livres os que escolherem seguir o caminho dos
moucos.