A Cantora
Esta é a minha última actuação.
Fui interprete dos sonhos e das palavras dos outros durante muito tempo.
Alimentei-me de palmas que ouvia e de rosas e poemas que recebia.
E fui tantas mulheres em tantas vidas.
No palco era fácil apartar-me de mim e ser outra, em outra vida diferente.
E cantei-(te) os gritos de mulheres alucinadas de paixão, os lamentos dos amantes que se perderam e a dor de um homem que não sabia amar.
Fui feliz, cantando o cansaço das noites brancas e a alegria dos dias rubros.
Entoei palavras novas, de tão usadas por outros antes de mim, mas sempre verdadeiras porque vestiam o encanto dos acordes do teu piano, que eu escutava nas minhas veias.
Tu, o gémeo dos meus segredos, tu que acariciavas o meu rosto no teu
regaço, tão suave, onde eu amanhecia nessas nossas alvoradas de todos os prodígios.
Tu que, noite após noite, transformavas a minha mágoa em música, porque
cada acorde do teu piano, me devolvia o raio de sol que iluminava o jardim encantado da minha infância.
E a partir de agora, meu amor, só quero despir-me de todos os adornos e véus que usei e ouvir-te murnurar o meu verdadeiro nome.
Porque tu sabes, tu és o único homem que conhece o meu verdadeiro nome.
Alba - A Clareira
1 comentário:
Tão lindo texto em tão lindo blogue.
Eduardo Aleixo
ealeixo.blogspot.com
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