O homem não inventou a cidade; a cidade é que criou o homem e os seus costumes.
Guillermo Cabrera Infante
A frase paira no confronto com a urbe. O homem ou a cidade, quem criou quem? Uma questão que se me põe quando, de cachecol e luvas, atravesso a cidade quase despida, uns farrapos de neve sobre o casaco negro, o frio cortante como nunca antes se sentiu. Dor. O frio dói, e, contudo, é bela a cidade. E a frase volta quando ziguezagueando desemboco no Canal Grande e ouço o vociferar dos gondoleiros na manhã ensolarada. Está sol e o sol não dói. A cidade não dói. Quem te criou assim, cidade? Ouço-a de novo no miradouro de Santa Luzia, o casario como um tapete bordado até ao Tejo, palavras de poeta amancebadas com a cidade lá em baixo. Foste tu, poeta, que criaste esta cidade que ouço? E regressa sempre a frase, eterno enigma, que resolvo na tela colorida. Aquela não é a cidade. Não a que vi. Outra cidade, vibrante, um turbilhão cromático, e bela, igualmente sedutora. Foi o homem que inventou aquela cidade.
Leonor Barros - Geração Rasca
A frase paira no confronto com a urbe. O homem ou a cidade, quem criou quem? Uma questão que se me põe quando, de cachecol e luvas, atravesso a cidade quase despida, uns farrapos de neve sobre o casaco negro, o frio cortante como nunca antes se sentiu. Dor. O frio dói, e, contudo, é bela a cidade. E a frase volta quando ziguezagueando desemboco no Canal Grande e ouço o vociferar dos gondoleiros na manhã ensolarada. Está sol e o sol não dói. A cidade não dói. Quem te criou assim, cidade? Ouço-a de novo no miradouro de Santa Luzia, o casario como um tapete bordado até ao Tejo, palavras de poeta amancebadas com a cidade lá em baixo. Foste tu, poeta, que criaste esta cidade que ouço? E regressa sempre a frase, eterno enigma, que resolvo na tela colorida. Aquela não é a cidade. Não a que vi. Outra cidade, vibrante, um turbilhão cromático, e bela, igualmente sedutora. Foi o homem que inventou aquela cidade.
Leonor Barros - Geração Rasca
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