26.2.09

ENTRE AS DUAS PONTAS DA CORDA


Menez

Entre o sujeito e o objecto, a viagem. Arranco de mim as palavras, para longe, para o branco do papel que se desenrola, como tapete em dia de festa… Há viagem entre as duas pontas. De um lado eu, do outro, no vazio que se completa, a ponta da corda viajada por mim, o texto que, sendo meu, não sou eu.
No caminho de ida, deixo as ideias e as coisas. No regresso, tudo muito mais limpo, como em banho de pétalas brancas. Quando levo as pétalas perfumadas, regresso com carga imensa, pesada. O caminho que não acaba enquanto o ponto final não chega, é seco e íngreme. Cansa.
Entre o sujeito e o objecto, a viagem. Atiro fora os sentidos, restam distantes, não incomodam nem presenteiam, ficam lá, para que outros leiam. Pouco sabem de mim. Resta no objecto, o detalhe que não se escondeu, o acento que não se evitou, a vírgula da qual se fugiu, interjeição que nunca foi escolha.
Entre os dois, a viagem. Atiram-se ideias para serem lidas. Alguns comentam-nas, outros confundem-nas, outros trocam-nas e, os mais atentos agarram-nas para construírem outros mundos.
Eu sou sujeito, não sou objecto, por isso, aquilo que arranco de mim e coloco na outra ponta da corda, sendo meu, não sou eu.

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