27.5.11

DISPARATE

- Firme nesse olhar a estrada, Luísa.
- Estava a pensar. Quando chegar a casa, tenho que ir buscar a folha branca.
- Estás bem?
- Estou óptima.
- Depois do fim-de-semana voltas para perto de ti.
- Estou sempre perto de mim, Pedro.
- Mesmo quando viajas numa espécie de corda entre duas pontas que te assustam?
- Mesmo quando estou em cima da corda, estou perto de mim, acredita.
- Claro que acredito. Depois do cansaço, os olhos ficam mais lentos, não é Luísa?
- É. Estou cansada mas feliz.
- Devemos chegar dentro de meia hora.
- E continuo a ver muito pouco.
- Acreditar no que não se vê é sempre sinal de afecto, sabias?
- Ou de estupidez.
- Não achas que vale a pena olhar para o que não se vê?
- Acho. E também acho que a lucidez pode conduzir à loucura.
- Que disparate, minha querida, que disparate.

2 comentários:

Anónimo disse...

Será o "disparate" a fronteira entre a "lucidez" e a "loucura?" :)
Bom diálogo! Gosto! :)

Anónimo disse...

Não, Ana, poderá ser disparate pensar-se que o excesso de lucidez pode conduzir à loucura... não sei.

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