31.12.11
30.12.11
Aniversário
Quando se começa um blogue não se sabe onde vão parar as palavras. Quatro anos. Não sei onde foram parar as palavras. Saíram de mim em dias dispersos. Quando se começa um blogue acredita-se que talvez as frases cheguem seguras a um qualquer lugar inquieto.
Dei uma volta ao tempo. Fiquei com a sensação que cada vez estou mais longe do que vivo e mais perto de mim.
27.12.11
26.12.11
24.12.11
23.12.11
Lugar do Natal
22.12.11
Dúvidas
Andrew Wyeth |
Era uma vez uma menina que nunca tinha recebido
presente de Natal. Não se portava bem. Depois de explicar ao menino
Jesus que o seu comportamento se devia a necessidades educativas especiais, o
menino concedeu-lhe provas de recuperação e adaptações várias. Deu-lhe
oportunidades, deu-lhe tempo de reflexão e deu-lhe permissão para consultar a
biblioteca do Céu. Mas a menina continuou a faltar às obrigações. O menino
Jesus zangou-se e enviou-lhe pelo correio um plano: nunca faltar aos compromissos assumidos. A menina indignou-se e
perguntou: o que são compromissos?
21.12.11
Fúteis obrigações
20.12.11
Divinas
Há músicas capazes de provocar os mais sublimes sentimentos.
Há músicas divinas e infernais. Escolho as divinas porque é Natal, porque o sol
possibilita suspiros profundos e vinhos caros, porque as luzes da cidade são
poucas mas as da alma são tantas que estou capaz de dobrar o grito!
11.12.11
9.12.11
Compota
8.12.11
Diário de Etelvina (9)
Morris Louis |
Etelvina teve de intervir. As meninas estavam aos
gritos, as mãos na cintura e os dentes a resvalar para o palavrão. Amarrou-as
todas às cadeiras e espetou-lhes o dedo, afiou-lhes as garras e fê-las entender
a urgência da disciplina. As meninas não quiseram saber e, quando o diretor do
hospital entrou na sala 33, riram alto e bateram com os pés no chão.
7.12.11
Pele
6.12.11
Teresa
5.12.11
Chávena
2.12.11
Vamos lá ver
1.12.11
Mês de Dezembro
Começa a azáfama, a preocupação, a ocupação, a corrida, o desejo, a frustração, o cansaço, as pessoas, a família, os amigos, os papéis, os laços, a música, a lareira, os pés doridos e a barriga cheia demais.
30.11.11
Desculpas adiadas
Foto de um pedaço de atenção |
Deambulei pela casa enquanto tomava coragem para
pegar no telefone e dar uma desculpa. Coloquei o disco, acendi o cigarro,
apaguei o cigarro, desliguei o disco, voltei a olhar para o telemóvel e apaguei
a luz.
Era hora de sair para os arredores, experimentar a ser outra, passar
pelas árvores e dizer bom-dia, olhar para a estrada e perceber que, percorrida,
fica com aspeto mais duro porque, por ela, podem passar todos os medos.
Pus o
cinto de segurança. Apanhei a via rápida em direção a casa da Maria, a mulher
dos filhos gatos e das idas ao supermercado.
29.11.11
Caminho de regresso
Foto de uma sombra que sou eu |
Corri para a mesa do restaurante e paguei a conta.
Entrei no caminho de regresso e fiz a estrada em duas
horas de chuva e vento. O dia não tinha acabado e a noite não acontecia. A água
descia do céu à terra e o tempo transportava-me para fora da minha consciência.
Uma réstia de lucidez levava-me a pôr o pé direito no acelerador.
Depois
sentei-me, deixei que a água escorresse pelo corpo e que o frio entrasse nos
ossos, puxei para mim as memórias e adormeci sem fechar os olhos. Já não fazia
sentido procurar certezas, as pernas diziam-mo e os braços provavam-mo. De vez
em quando um relâmpago, um estado de intermitência entre o escuro e o claro.
Que importam as certezas quando o corpo está todo vivo?
28.11.11
27.11.11
26.11.11
Bonito demais
Sem conseguir respirar. A beleza que procuro e só encontro quando a vista se me turva.
25.11.11
Diário de Etelvina (08)
As meninas decidiram fingir que estavam a dormir, estavam
tão acordadas quanto o sol que, naquele dia, nascera com o viço da manhã. Etelvina
começou a cantar baixinho. As meninas abriram os olhos com indignação e
afirmaram o despropósito da funcionária que cantava em serviço. No piso 3
julgava-se possuir a verdade. Da fragilidade e da ignorância, brotavam os
maiores disparates. Etelvina tentava socorrer-se da experiência, esbracejava
quando podia e abria os olhos com o poder dentro das pálpebras. As meninas
ignoravam a funcionária. Viviam aquém de si mesmas e não queriam perceber que
os dias ali passados eram a parte de trás de uma vida fora do lugar.
Paula Rego |
24.11.11
Gente esquisita
-
A professora é esquisita. Chega a ser irritante.
- Porquê?
- Porque é sempre ao contrário dos outros.
- Gostam de rebanhos?
- Gostamos de ser normais.
- O que é isso?
- É, sei lá… é sermos como os outros.
- Portanto, serem ovelhas de um rebanho que vos
comanda.
- E que mal há nisso?
- Nenhum, caso se sintam bem.
- Claro que sentimos.
- Ótimo. Não precisam de perguntas, as respostas
que os outros vos entregam bastam-vos.
- Nem sempre.
- Quando os outros vos mostram perspetivas
diferentes são esquisitos, chegam até a ser irritantes.
- Lá está a professora a dar a volta à
conversa!
23.11.11
22.11.11
Fome de uma vida
Juarez Machado |
As noites com o cheiro da canela e do vento são
sempre maiores. Quando fazem do corpo instrumento de medida e dizem, do mundo,
aquilo que não é, o vento passa devagar. Ficam quietos em frente ao que
treme, mexem nas mãos que procuram e percebem que o sentir clarifica
toda a realidade. A canela deposita-se em cima do que comem com a fome de uma
vida.
21.11.11
Sem explicações
Pollock |
No dia seguinte não encontrou explicações. Levantou-se cedo. Saiu da cama e sentiu o mundo muito frio. Tapou o desejo que tinha
fora de si e riu baixinho. Depois deu um salto para fora da água que impedia a
quietude. Voltou-se para o lado seco da realidade e fez, das matérias,
pensamentos mais serenos que as plumas. As explicações estavam escondidas na
última gaveta da cómoda. Não a abriu porque teve medo de as poder entender.
20.11.11
Não há motivo
Pollock |
Naquele dia não havia motivo. Não é preciso haver motivo. Entrou dentro da cama e sentiu o mundo quente demais. Destapou o que o desejo tinha guardado e riu alto. Junto do corpo que tremia fez, dos pensamentos, matérias duramente dóceis. Depois voltou-se para o lado de dentro de um sentir intranquilo e voltou a destapar tudo. O motivo não foi encontrado porque não é preciso.
19.11.11
18.11.11
Ele foi com ela à missa
Ele sentou-se ao lado dos estranhos. Ouviu tudo o
que, de dentro, podia ouvir. Percebeu que podia encontrar respostas. Não se
incomodou. Ele não viu qualidades nem defeitos, olhou para o altar e conversou
com Deus. Acreditou que naquele lugar podia encontrar-se, mesmo que as velas se
apagassem e os estranhos fossem sacanas.
17.11.11
Ela foi à missa
Um dia ela foi à missa e encontrou estranhos.
Estavam sentados, os olhos postos no infinito e os ouvidos ausentes. Ela
sentou-se e viu. Viu o crente e o ateu, o honesto e o sacana, o homem e a
mulher, o filho, o pai, a mãe, o vizinho, o amante e todos os que rezavam em
silêncio. Encontrou estranhos com a convicção em cima dos ombros e acreditou
que, ali, a verdade andava espalhada por cima de todas as dúvidas.
16.11.11
15.11.11
Não te preocupes
Pieter Brueghel |
Não te preocupes com aquilo que dizem. Faz
das palavras que ouves o teu assento. Quando te levantares, agarra em todas as
que te magoaram e derrete-as. Quanto às outras, o próprio vento se encarregará
de as levar para longe. Não te preocupes nunca com aquilo que se dissipa.
Preocupa-te com todas as palavras que constróis. Delas não deves fazer assento.
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