As meninas da sala 33 andavam inquietas com o desaparecimento de um batom. A falta do único objecto que tinham fazia com que esbarrassem no frenesim. Etelvina tinha experimentado tudo: histórias, jogos, TV e livros. Era urgente manter as meninas entretidas e sem protestos:
- Não sabe que nos dá tretas que não queremos?
- Que querem vocês, afinal?
- Paz, D. Etelvina. Queremos paz.
- E como querem ter paz se não estão sossegadas um dia que seja?
- E a paz vem do sossego, D. Etelvina?
- Claro que vem.
- Então deixe-nos encontrar essa coisa. Não nos enfie livros pelos olhos dentro e filmes pelos poros fora. Pare de tentar entreter-nos e perceba que queremos ficar connosco.
- Mas não sabem estar convosco.
- É para isso que a D. Etelvina cá está, para nos ensinar a estar, não para nos entupir de distracções.
- Quem são vocês?
- Somos um bando de loucas postas em cima de um chão de madeira dentro de uma casa com chefes e médicos e enfermeiros e pessoas que nos distraem.
- Pelo menos têm a noção da realidade.
- Qual realidade, D. Etelvina?
Paula Rego |
1 comentário:
Tirar o único batom é dose! Isto é a grande realidade. ;)))
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